Vencer o maior desafio de sempre em lares de idosos

Por Joana Marques , 20 de Julho de 2020 Profissionais


A expressão «novo normal» surgiu para caracterizar a nova situação que alterou radicalmente a vida de todos nós: a pandemia do novo coronavírus. No início, talvez houvesse a convicção de que num futuro próximo tudo voltaria ao antigo normal. No entanto, com o passar do tempo, começa a instalar-se a sensação de que poderá não haver um regresso ao passado.



Nos lares para idosos, o «novo normal» tem sido sinónimo de novas rotinas de auto-proteção e higienização.



A batalha contra a Covid-19 ainda está longe de terminar e os lares têm enfrentado verdadeiras provas de fogo na tentativa de manter a infeção longe dos idosos. Até ao desenvolvimento da tão desejada vacina, o caminho vai ser longo e caracterizado pelo isolamento social e o corte de laços emocionais.



A Covid-19 obriga a repensar a socialização


Na realidade pré-Covid, uma velhice bem sucedida estava associada à manutenção de interações sociais frequentes e diversificadas, através da participação em atividades que idealmente envolvessem outros idosos e o exercício físico e mental. Antes da pandemia, as palavras de ordem para os idosos eram: passem o tempo com amigos e familiares; façam novos amigos; optem por atividades que promovam o contacto com os outros.


A socialização como era feita pré-pandemia já não serve os requisitos de segurança decretados pela DGS.



Tem-se vindo a discutir a importância do convívio social na queda da mortalidade entre os idosos devido à diminuição do risco de morbidades, do declínio cognitivo e de sintomas depressivos. Relações significativas mantêm os idosos ligados à realidade e a sensação de bem-estar faz com que valorizem mais a saúde e que sejam mais otimistas em caso de recuperação de uma enfermidade.


Ao ser decretado o Estado de Emergência, com a consequente proibição das visitas, houve um corte abrupto nas relações sociais e emocionais dos idosos que vivem em lares. Ainda hoje a saúde mental dos mais velhos se ressente com o impacto do isolamento.


Uma das prioridades dos cuidadores em contexto de lar é a criação de novas formas de envolver os idosos e de os acarinhar.



Mesmo que os idosos tenham consciência de que o distanciamento físico tem como objetivo prevenir a propagação do vírus, é inevitável que surjam sentimentos de solidão e ansiedade despoletados por novos padrões de socialização, com os quais não estão familiarizados. O acompanhamento constante de profissionais alertas para esta situação é cada vez mais necessário.



Desconfinamento não é sinónimo de normalidade


Uma das medidas mais esperadas pelos idosos que vivem em lares foi a retoma das visitas por parte de familiares e amigos. Em circunstâncias normais, o afastamento prolongado da família pode dar origem a depressões, angústia e sensação de abandono. 



Os lares sempre privilegiaram a integração e o envolvimento dos familiares no quotidiano do idoso na instituição. Isto não mudou com a pandemia.



Os idosos estavam habituados ao contacto físico com a família através de visitas periódicas, mas também na comparência em aniversários, durante as refeições ou atividades de lazer. Através desta dinâmica, os vínculos eram reatados e os laços reforçados. O desconfinamento trouxe novidades: as visitas têm de ser previamente agendadas e é obrigatório o cumprimento do distanciamento físico, da etiqueta respiratória e higienizar as mãos.



A Covid-19 trouxe consigo formas mais criativas de fazer as visitas, sempre em total segurança para os idosos.



A importância dos laços afetivos para a estabilidade emocional dos idosos levou a que surgissem formas criativas de proporcionar algum contacto. Recordamos o exemplo dos lares que optaram pelas visitas à janela ou à varanda (e à distância recomendada de 2 metros), ou a internacionalmente célebre cabine das emoções: uma caixa de acrílico que permitiu anular o distanciamento social.


Até que surja uma vacina ou a cura, as visitas vão ter que decorrer numa nova normalidade, marcada por máscaras e cheiro a desinfetante.



O «novo normal» envolve novos desafios para os lares


Caracteristicamente, os lares para idosos são locais desenhados para a vida em comunidade. Antes da Covid-19, e a não ser que estivessem acamados, os idosos passavam a maior parte do dia na sala de convívio, na sala das refeições, na biblioteca e em salas dedicadas às atividades de lazer.


Sempre que possível e seguro, é preferível privilegiar os espaços de convívio, havendo o correto distanciamento entre os idosos.



Hoje, somente por questões incontornáveis de segurança é que os idosos devem estar confinados aos seus quartos. A não ser que exista um surto da doença ou que o idoso tenha que cumprir quarentena à entrada, não é aconselhável manter os mais velhos fechados nos seus quartos. Tanto quanto possível, o ideal é manter as rotinas e combater a inatividade.  



Os profissionais têm hoje maiores desafios para manter os lares tão acolhedores e calorosos como eram antes.



É certo que em contexto da pandemia, os funcionários têm pouco tempo e disponibilidade para dar atenção os idosos e mantê-los envolvidos e animados, mas é necessário um esforço e evitar que os mais velhos passem a maior parte do tempo nos quartos. Os profissionais devem apostar em atividades simples com idosos, pois a inatividade pode colocar em risco a saúde física e psicológica do idoso.



Profissionais devem ter formação específica


Por enquanto, o quotidiano nos lares é atípico, para idosos e colaboradores. Assim sendo, deve haver uma formação específica a todos os profissionais que lidam diretamente com os idosos, de forma a que estes sejam acompanhados da forma correta.



É num contexto de crise que os idosos precisam de mais atenção, sendo cada vez mais importante uma palavra amiga ou um gesto de carinho.



As circunstâncias pós-Covid são excepcionais e a utilização de máscaras e luvas, bem como a obrigação de manter o distanciamento físico, despersonaliza a relação entre idoso e cuidadores. Aliás, a utilização obrigatória da máscara é um factor desestabilizador, especialmente para os que sofrem de perda de memória, que mais dificilmente conseguem reconhecer o cuidador.



Cada colaborador utilizar uma fotografia ao pescoço é uma forma simples de reconhecimento. É preferível olhar para um rosto sorridente e familiar a ver apenas uma máscara.



O «novo normal» obriga a um esforço extra por parte dos cuidadores em contexto de lar no que se refere à comunicação não verbal. Neste contexto de crise, até o olhar diz mais do que palavras ditas por detrás de uma máscara. Agora que o distanciamento passou a ser uma rotina, a comunicação não verbal é fundamental para que os mais velhos não se sintam tão isolados.



Gestos abertos e convidativos contribuem para a construção da confiança e comunicam emoção que agora não pode ser exprimida de outras formas físicas.


Neste «novo normal», os sinais não verbais que emitidos pelo corpo devem ser ainda mais claros e expressivos. Uma postura relaxada e um tom de voz calmo e audível são preferíveis a movimentos bruscos e uma entoação que demonstre impaciência ou medo face à pandemia.

É por esta razão, mas não só, que é imperativo que todos os colaboradores, especialmente os que lidam diretamente com os idosos institucionalizados, tenham formação adequada e estejam sensibilizados para a importância de não se deixar vencer pelos seus sentimentos, sejam eles de tristeza, cansaço ou temor.



É importante sempre chamar o idoso pelo nome (ou até atribuir-lhe um nome carinhoso durante a pandemia) e estabelecer contacto direto quando se fala com ele. 



Não é possível prever quando ou se chegará o dia em que tudo voltará ao normal. Mesmo quando a crise pandémica pertencer ao passado, há medidas preventivas que podem passar a ser a norma, como a utilização de máscara e desinfetante ou o distanciamento social. Seja como for, é fundamental que família e colaboradores dos lares estejam atentos à evolução emocional dos idosos e utilizar todas as estratégias para que eles não sintam de forma ainda mais dura e avassaladora o impacto que a Covid-19 tem tido no seu quotidiano.



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