Riscos de contratar um cuidador em particular
Por Susana Pedro , 07 de Outubro de 2019 Dependência
Quando tomamos consciência de que os nossos familiares idosos precisam de alguma ajuda para a sua vida comum, começamos a perceber que existem diversos caminhos. Um deles é, obviamente, o ingresso num lar de idosos. Lá, o apoio e cuidados diários são assegurados por uma equipa dedicada. No entanto, muitos idosos, por razões várias, acabam por recusar esta mudança na sua vida.
Há muitos idosos que vêem com maus olhos a integração numa instituição. Vêem-no enquanto perda de controlo e mesmo dignidade. Apesar de muitos já não poderem assegurar as suas atividades da vida diária, acabam por recusar terminantemente um lar de idosos.
Quais os cuidados disponíveis?
Havendo recusa do idoso em ser admitido num lar de idosos, as alternativas à institucionalização reduzem-se, mas existem.
Serviço de Apoio Domiciliário
Estes serviços podem ser de vários tipos. Podem ser prestados por instituições de cariz social ou lucrativo, sendo que variam consoante a natureza do equipamento. Existem dois grandes tipos de apoio domiciliário: Apoio nas Atividades de Vida Diária e Apoio Domiciliário Integrado.
AVD - Atividades de Vida Diária
Os serviços de apoio domiciliário de cariz social asseguram predominantemente no primeiro tipo, que incide sobre a higiene e alimentação dos idosos. Periodicamente, vai um auxiliar geriátrico ao domicílio do idoso, levando comida confeccionada para o dia. Este também ajuda o idoso na sua higiene e muitas vezes assegura que tome a sua medicação, caso necessite. No entanto, não faz companhia nem colmata necessidades de socialização, nem de cuidados de saúde.
ADI - Apoio Domiciliário Integrado
Em relação ao segundo tipo, os cuidadores já abrangem maior número de cuidados, particularmente os de saúde. Esta modalidade normalmente é prestada por instituições de caráter lucrativo. Os cuidados integrados são prestados a idosos mais dependentes, ou mesmo acamados, que necessitam de mais horas de apoio, nomeadamente cuidados de saúde.
Apoio prolongado
Para idosos que passam os seus dias em casa, há a modalidade de apoio durante um período mais prolongado que apenas a higiene e alimentação. Há instituições onde os cuidadores passam períodos de manhã, de tarde, ou ambos na casa dos idosos. Assim, o serviço já abrange um maior acompanhamento e outro tipo de tarefas.
Apoio durante a noite ou ao fim de semana
Quando os idosos começam a ter alguma instabilidade e já frequentam o centro de dia, acontece outra lacuna: os períodos em que estão de novo sozinhos em casa.
Para este tipo de casos, há cuidadores que se deslocam a casa dos idosos e apoiam-nos durante a noite e/ou os fins de semana. Particularmente se a família não vive perto ou não pode dar esse apoio aos idosos. Este tipo de cuidados já incluem mais o aspeto social e emocional que o serviço base de apoio domiciliário, para além dos serviços de higiene e alimentação.
Apoio de um cuidador particular a tempo integral
Por outro lado, há casos em que o idoso, ou os idosos, porque acontece muito em caso de casais, necessitam de apoio em sua casa a tempo integral. Necessitando de apoio na alimentação, higiene, toma de medicação e muitas vezes mesmo locomoção, esta é a solução mais económica, se excluirmos os lares de idosos à partida. No entanto, ao ser em tempo integral, muitas vezes não é possível contratar apenas um cuidador, pois este não pode trabalhar 24h/dia.
Como se encontra um cuidador particular?
Chegando à decisão de contratar um cuidador em particular para apoiar o idoso na sua casa, surgem outras perguntas. A informação de lares de idosos acaba por estar mais acessível, havendo informação credível em plataformas como o Lares Online ou sites gerais como a Carta Social. Toda a informação acerca de cuidadores em particular não existe aglutinada num local só.
Tal como os serviços de apoio domiciliário, estes cuidadores em particular são serviços mais regionais. Desta forma, será mais complicado encontrar este tipo de serviços, particularmente se a família não se encontra geograficamente perto da casa do idoso que necessita do apoio.
Uma dor de cabeça
Nesta procura local por um cuidador particular, as famílias deparam-se com muitas dores de cabeça e chatices. Encontrar um cuidador com formação adequada não é fácil, ainda por cima dependendo essencialmente de referências informais e boca a boca local. O processo para chegar até alguém qualificado e com disponibilidade não é linear nem fácil.
Procura, seleção e formação
As formações geriátricas são cada vez mais acessíveis, no entanto, cada caso é um caso e todos os cuidados devem ser personalizados. Cabe à família conseguir escrutinar o CV dos candidatos a cuidadores, procurando pessoas com boas referências e confiáveis. Além de que a formação deve ser contínua, sendo responsabilidade da família também procurar alguém que tenha vontade de aprender e personalizar o conhecimento que for adquirindo. Cada idoso é um idoso com necessidades particulares.
Supervisão contínua do trabalho
Nunca é de mais frisar que as referências são mesmo muito importantes. Tratando-se de uma pessoa que vai estar em contacto constante com o idoso, é necessário que seja completamente confiável, e não apenas que diga que o é.
É parte das responsabilidades da família prestar sempre atenção ao cuidador particular e à forma como ele trata tanto o familiar idoso como a casa em si. É de salientar que este cuidador vai desenvolver o seu trabalho numa casa particular, que pertence ao idoso e deve ser, por isso, bem supervisionado.
Afinal, quais são os maiores riscos de contratar um cuidador em particular?
Como qualquer contratação, esta envolve riscos tanto para a família como para o idoso, visto que estará mais em contacto com o cuidador particular. Um bom processo de seleção do cuidador minimiza muito os riscos, mas não os elimina por completo.
Incompatibilidade e incapacidade do cuidador
A pessoa, por muito conhecimento geriátrico que tenha, pode não conseguir conciliar de forma adequada o seu temperamento com o do idoso ou ainda ter valores tão diferentes que o tornem incompatível. É sempre importante verificar se a relação entre o idoso e o cuidador particular está a evoluir de forma favorável, ao longo do tempo.
Ausência de contrato e desconhecimento legal
Muitas vezes, há desconhecimento da lei laboral, e isso pode levar também a alguns problemas. Os cuidadores, mesmo em particular, devem obedecer a algumas regras. As horas semanais de trabalho devem ser respeitadas, deve existir um contrato escrito e, obviamente, um seguro. Grande parte dos cuidadores são contratados de forma ilegal, sem descontos, o que não os protege a eles nem à família, muito menos ao idoso.
É importante preservar-se sempre a integridade física e emocional do idoso numa fase tão delicada da sua vida, principalmente em sua casa, onde deve sempre sentir-se seguro.