Residência Casa Maior: a projeção conseguida pela Lares Online
Por Sónia Domingues , 24 de Março de 2022 Lares e Residências
A residência geriátrica Casa Maior, situada no Bonfim, em pleno centro do Porto, tem a sua filosofia estampada no nome que carrega. É uma «casa», com a conotação familiar que lhe damos, mas é «maior» pela dimensão, pelos espaços verdes, e pelos cuidados diferenciados que oferece aos seus moradores.
Cristiana do Nascimento, da Casa Maior, a completar o seu doutoramento em Gerontologia e Geriatria, acredita que este é o caminho a seguir.
Uma referência nos cuidados sénior do Porto
Aqui, os idosos fazem a sua rotina às horas a que estão habituados, não existem horários impostos ou refeições padronizadas. Na Casa Maior, as preferências dos idosos são respeitadas, mantendo os hábitos de toda a vida.
Considera que a Casa Maior se assimila mais a um hotel que a uma residência sénior?
Cristiana do Nascimento - Sim, acabamos por nos aproximar um bocadinho do contexto hoteleiro pela qualidade das nossas instalações, mas nós não somos um hotel. Somos uma casa, maior do que o habitual, mas continua a ser uma casa. Uma casa com uma família alargada, onde existe uma relação muito próxima entre profissionais, famílias e residentes. Nós temos uma heterogeneidade muito grande nos idosos. Temos desde grandes dependentes e residentes totalmente autónomos, e claro aqueles que ficam no intermédio.
Aproximamo-nos do conceito hoteleiro, mas continua a ser uma casa com uma família alargada.
Como se processa a admissão de idosos?
Cristiana do Nascimento - Nós pedimos à família que se faça munir do máximo de informação médica da pessoa. Depois é sempre feita uma consulta de avaliação inicial, por parte da nossa equipa médica. Também temos a avaliação psicológica, que é feita por mim, sou especialista em psicogerontologia e em psicologia do envelhecimento. Conto depois com o resto da equipa para fazer uma integração facilitadora para o residente. Portanto, recolhemos o máximo de informação do idoso, ao nível dos gostos, dos hábitos, para que não haja um choque entre aquilo que é a saída do seu domicílio e o ingresso na Casa Maior. Tentamos que essa transição seja o menos impactante possível.
Fazemos uma avaliação inicial (médica e psicológica) e recolhemos o máximo de informação sobre o idoso, os seus gostos e hábitos diários.
Chegam muitos idosos que se auto-medicam à Casa Maior?
Cristiana do Nascimento - Aquilo que acontece é que há muitos residentes que chegam aqui polimedicados. Estes deveriam ter suspendido uma determinada medicação, mas, por falta de diálogo com o médico de família, continuam a tomar esses medicamentos. Na avaliação inicial da nossa equipa médica costumamos detectar estes casos. Também há um seguimento clínico, há um pedido de novos exames, para tentar perceber aquilo que é mais ajustado para a pessoa. Também existem idosos que tomam medicação que lhes foi indicada por um amigo ou vizinho, ou que é vendida em ervanárias. Mas nós temos uma conversa franca com os residentes e apontamos as razões pelas quais não devem tomar essa medicação.
Há residentes que chegam polimedicados, e aqueles que tomam vitaminas ou medicação de ervanárias, ou indicadas por um amigo ou vizinho.
O que distingue a Casa Maior de outras residências e lares para idosos?
Cristiana do Nascimento - Eu costumo dizer que aqui só há uma regra rígida, que é higiene diária. O horário não é rígido, mas a higiene tem de ser feita diariamente. Depois acabamos sempre por adaptar-nos ao hábito do residente. Nós temos idosos que têm por hábito, em casa, levantar-se às seis e meia da manhã, porque depois querem cumprir todo o seu ritual. Temos senhoras que querem estar bastante tempo para se arranjar, então nós priorizamos essas pessoas para levantar mais cedo.
E depois temos os residentes que não gostam de se levantar cedo. Essas pessoas tomam o pequeno-almoço no quarto, e depois vão tomar banho mais tarde, porque é essa a vontade deles. Também temos pessoas que gostam de tomar o pequeno-almoço na sala de robe, e só depois sobem para fazer a sua higiene. E tudo isto acaba por ser fundamental, respeitamos as vontades deles. Depois não têm horas para se deitarem. Há pessoas que querem ir para o quarto ver televisão e outros que gostam de ver televisão na sala. Há senhores que gostam de ver o futebol juntos numa sala e nós temos essa flexibilidade. As rotinas são muito adaptadas àquilo que são as realidades de cada residente.
Os familiares dizem que lhes fazemos todas as vontades e é verdade, porque acabamos por não romper com aquilo que eram os hábitos que o residente tinha em casa.
Os residentes na Casa Maior acabam por criar laços com os profissionais?
Cristiana do Nascimento - Acabam por criar laços, e isso é fundamental. Nós percebemos que, nos últimos dois anos, com a pandemia, foram o sustento da vida de todos nós, dos próprios profissionais também. Porque a determinada altura, estávamos longe das nossas famílias e apoiamo-nos muito uns nos outros e nos residentes, que também se apoiavam em nós, porque também estavam afastados dos familiares. Até março de 2020, as visitas vinham quando queriam, às hora que queriam, não havia horários definidos e desde essa data até aos dias de hoje, as visitas vêm por marcação, são feitas num local específico, os residentes já não podem ir a casa de familiares passar uns dias e tudo isso foi castrador daquilo que é a liberdade deles.
Sim, e é fundamental. Nos últimos 2 anos esses laços foram o sustento de todos na Casa Maior.
Como é a ocupação dos residentes idosos?
Cristiana do Nascimento - Temos atividades sócio-culturais muito diversas, como peças de teatro. Temos muitos dias temáticos, sejam eles assinalados no calendário ou não. Por exemplo, no Dia da Mulher, que se realizou há pouco tempo, fizemos uma sessão de Spa para as senhoras. Depois no Natal, fizemos a Festa dos «Globos de Ouro», mas em vez de ser globos, foram medalhas de ouro. Nós, os profissionais, fizemos a animação musical, a imitar cantores conhecidos, vestidos a rigor.
Também fazemos muitas vezes almoços temáticos. Permite-nos viajar ao estrangeiro ou dentro do país, sem sair de casa. Confecionamos os pratos tradicionais, ouvimos música tradicional daquela região, e vestimo-nos a rigor. Por exemplo, há pouco tempo, fizemos um Almoço Temático Angolano. Temos um residente com uma demência, mas que tem uma memória de longo prazo preservada. Por isso, este almoço fez todo o sentido. Comer a moamba, ver-nos trajadas com os trajes coloridos de Angola, ouvir a música, ver a decoração do espaço, foi como se ele fosse transferido para uma casa naquele país e ele até recordou algumas memórias do seu passado. Fizemos ainda o almoço italiano, que até tinha uma vespa a decorar a sala, o almoço havaiano, o francês... E depois também falamos sobre o país, as tradições, a história, por isso acaba também por ser uma atividade de interesse cognitivo.
Fazemos muitos dias e almoços temáticos: decoramos o espaço, vestimos roupa adequada, colocamos música, falamos sobre o país e tradições, e comemos a comida típica.
Lares Online, uma parceria presente no dia-a-dia
A Residência Geriátrica Casa Maior é parceira do Online desde o ano da sua abertura, 2019. Desde essa altura, já tiveram centenas de pedidos, dos quais resultaram algumas dezenas de admissões.
Como define a parceria com a Lares Online?
Cristiana do Nascimento - Acreditamos que a parceria com a plataforma é muito vantajosa para a Casa Maior, e dá mais visibilidade a esta residência. Naturalmente que a Lares Online tem contribuído muito para a divulgação da Casa Maior, é uma boa parceria, até porque nos dá maior visibilidade e maior projeção.
Uma parceria muito vantajosa. A Lares Online dá mais visibilidade à Residência Casa Maior e contribui em muito para a sua divulgação e projeção online.
No seu trabalho diário, a Lares Online está presente?
Cristiana do Nascimento - Claro que sim! Estou sempre bastante atenta aos pedidos da Lares Online e àquilo que partilham no blog. Naturalmente que, com a dimensão da plataforma, há leituras importantes e que eu recomendo a quem trabalha na área. Até porque a partilha de conhecimentos é muito positiva e acabamos por ir buscar informação muito importante, que é de difícil acesso de outra forma.
Claro que sim! Estou sempre bastante atenta, não só aos pedidos que a Lares Online nos envia, como aos novos conteúdos que partilham no blog, que recomendo a quem trabalha na área.
O setor dos lares no presente e no futuro
Cristiana do Nascimento reconhece que é preciso um trabalho intensivo para que as residências sénior se mantenham de excelência. Diariamente, é preciso estar a par da informação mais recente. Mas também considera que há mundanças a fazer no setor, por parte dos lares e do Governo, para que os idosos em Portugal tenham acesso aos melhores cuidados.
O que é necessário para manter um cuidado de excelência?
Cristiana do Nascimento - É necessário ter uma equipa especializada, dedicada, mas sobretudo motivada para o exercício de funções. Nós não podemos exigir à equipa que esteja motivada apenas quando a instituição precisa. Esta motivação tem de ser feita diariamente para que haja um compromisso. Que os profissionais vistam a camisola e se sintam parte integrante da empresa. Eu acho que isso acontece na Casa Maior e o facto de não haver grande rotatividade ao nível dos profissionais é fundamental. Essa estabilidade é muito necessária.
É necessário uma equipa especializada, dedicada e motivada. Também a estabilidade, a baixa rotatividade de pessoal, é muito necessária.
Como se lida com a morte de um idoso numa residência?
Cristiana do Nascimento - Eu atrevo-me a dizer que estou a fazer doutoramento em Gerontologia e Geriatria, e a minha tese de investigação é precisamente sobre morte em EPI’s. Quem trabalha nesta área sabe que lidamos com a morte muito frequentemente. Costumo dizer que se nós fizermos tudo aquilo que a pessoa precisa em vida, lidamos muito bem com a morte. Naturalmente que depois é necessário preparar as equipas, obviamente, que têm de ter esta noção que em vida fazemos tudo, acompanhamos até ao último suspiro, dentro daquilo que são as nossas possibilidades. Aliás, as famílias e os residentes pedem muito frequentemente para morrerem aqui, para não serem transportados para um hospital e nós, sempre que possível, respeitamos esse desejo. Havendo um assumir de responsabilidades por parte da família, da instituição, da equipa médica e dos profissionais, nós lidamos com a morte com naturalidade, formando os nossos recursos e criando todas as condições aos nossos residentes para que esse momento seja de paz e tranquilidade.
Costumo dizer que, se fizermos tudo aquilo que o residente idoso precisa em vida, lidamos muito bem com a sua morte.
Que mudanças deve haver no setor dos lares em Portugal?
Cristiana do Nascimento - As estruturas residenciais em Portugal têm que se afastar muito daquilo que é o conceito do lar tradicional. Para já porque a população idosa é cada vez mais exigente, assim como as famílias. Os lares têm que acompanhar este progresso. Sabemos que há muitos bons exemplos, mas também há muitos maus exemplos. Acho que deveria haver uma distribuição diferente das comparticipações do Estado, porque as estruturas privadas com fins lucrativos não conseguem candidatar-se a apoios. Se o Estado comparticipar os idosos que querem ir para um determinado sítio, o idoso tem acesso aos cuidados de que realmente necessita e pretende, senão caímos naquela situação em que quem tem dinheiro, pode ir para determinados sítios e quem não tem, não vai. A fiscalização é muito importante, assim como o acompanhamento pelas entidades competentes, ou seja, esta área precisa de ser reorganizada, porque se não for, acaba por haver uma desigualdade muito grande no acesso aos cuidados.
Esta área precisa de ser reorganizada, deveria haver uma distribuição diferente das comparticipações do Estado, para haver igualdade no acesso aos cuidados.
Entre o respeito pelas rotinas próprias de cada residente e o atendimento diferenciado num espaço de conforto e luxo, a Residência Geriátrica Casa Maior garante a autonomia dos seus residentes idosos, que usufruem dos serviços especializados que esta Casa oferece.
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