O idoso com dor: O que fazer para ajudar?

Por Carolina França , 03 de Março de 2020 Envelhecimento


Qualquer que seja o contexto, na comunidade ou institucionalizado em casas de repouso, a dor é um sintoma comum entre os idosos e pode ter uma forte repercussão na sua qualidade de vida.

Condições comuns, como a polimedicação, múltiplas doenças e declínio da função física e mental, geram um grande desafio aos profissionais de saúde na gestão da dor nesta população. Este artigo aborda as dificuldades na avaliação e tratamento no controlo da dor crónica em pessoas com idade avançada.



Porque sente o idoso dor?

A população idosa é propensa a sentir mais dor do que a população em geral. Apesar da alta prevalência, este sintoma é frequentemente subvalorizado na terceira idade. Muitos idosos pensam que a dor é uma parte natural do envelhecimento e não informam seus médicos sobre o problema.

Quando a dor continua por mais de três meses e persiste mesmo após a cura da lesão que lhe deu origem, é classificada como crónica. A dor crónica é causada por múltiplos fatores e está relacionada com patologias frequentes na idade avançada, como a osteoartrose, o cancro, distúrbios vasculares e traumatismos.



É considerada um grave problema de saúde pública, pois está associada a:

  • depressão;

  • diminuição da socialização;

  • imobilidade;

  • alterações do sono e marcha;

  • aumento nos custos de saúde;

  • múltiplas medicações e interações medicamentosas.



Dificuldades da gestão da dor na terceira idade

Os idosos geralmente não são tratados ou são subtratados para a dor. Isso acontece pelas dificuldades na avaliação e manifestações atípicas de dor em idosos.

O tratamento e a avaliação da dor tornam-se ainda mais difíceis quando associados a um distúrbio cognitivo e de comunicação, como a doença de Alzheimer.

Neste sentido, é importante realizar uma avaliação considerando sinais indiretos de dor e mudanças comportamentais, como pacientes tipicamente apáticos que se tornam agitados ou o contrário. Pacientes com demência que mudam de comportamento e apresentam sonolência, insónia, apatia, inquietude, agressividade e outras alterações de condutas, devem ser investigados, de forma a compreender e mitigar estes efeitos.

Tratamento medicamentoso

Existem muitas opções farmacológicas de controlo da dor. Entretanto, alterações fisiológicas no corpo envelhecido e condições de saúde coexistentes podem representar um desafio em idosos. Por esse motivo, alguns medicamentos devem ser evitados no controlo da dor em idosos.

As injeções podem ser usadas quando o alívio da dor é necessário rapidamente e quando os pacientes têm distúrbios de saúde mental que os tornam indispostos a tomar medicamentos orais.

Os agentes tópicos também são uma alternativa à medicação oral e o uso de adesivo transdérmico é eficaz para tratar áreas específicas. 


Tratamento não farmacológico

A alta prevalência de dor crónica entre os idosos, juntamente com as preocupações com os efeitos colaterais dos medicamentos, levam a um interesse crescente na gestão não farmacológica da dor nessa população.

As terapias não farmacológicas abrangem uma ampla gama de tratamentos que podem ser agrupados em intervenções físicas (incluindo a fisioterapia, acupuntura e osteopatia) e intervenções psicoeducacionais (como terapia cognitivo-comportamental, meditação e educação do paciente).

Embora a maioria dos pacientes idosos precise de medicamentos para controlar a dor, as abordagens não farmacológicas podem ter um benefício adicional e devem ser sempre consideradas.

Muitas dessas terapias são de baixo custo e permitem a redução das doses dos fármacos, com a consequente diminuição de efeitos secundários e interacções medicamentosas.

Além disso, muitos idosos, em especial os com dor crónica, são mais abertos a abordagens não farmacológicas no tratamento da dor. 


Como pode a fisioterapia ajudar o idoso com dor crónica?

A fisioterapia é uma modalidade que pode aliviar a dor crónica e restaurar funções físicas como flexibilidade, força, equilíbrio e coordenação. O fisioterapeuta possui muitos recursos a utilizar e que são indicados individualmente após avaliação.

A Terapia Manual é realizada pelas mãos do terapeuta com o objetivo de reduzir a dor e fornecer mais flexibilidade. Inclui:
   - Massagem dos músculos e dos tecidos moles do corpo para melhorar a circulação e aliviar a dor;
   - Mobilização com movimentos lentos das articulações para afrouxar os tecidos das juntas e aumentar a mobilidade;
   - Manipulação com movimentos rápidos e fortes para aliviar a dor e realinhar as articulações e os ossos.

A Terapia Fria é usada para aliviar a dor, inchaço e inflamação de condições agudas. O tratamento envolve compressas de gelo, com sessões de 15 a 20 minutos, compressão e elevação.

A Terapia pelo Calor relaxa os músculos e melhora a circulação sanguínea, o que é útil para soltar as articulações rígidas da osteoartrose ou outras condições de redução de movimento.

A Hidroterapia usa água para tratar doenças e manter a saúde, favorece o aumento do fluxo sanguíneo e relaxa todo o corpo.

A Estimulação Elétrica é benéfica para diversos tipos de dores superficiais e profundas.

Os Exercícios Regulares de resistência e fortalecimento muscular melhoram as dores musculoesqueléticas e as articulares.

O uso de aparelhos como o Ultrassom é eficaz para o tratamento de tecidos mais profundos, ao favorecer a regeneração do tecido e alívio de dores mais profundas.

 A Acupuntura é uma forma alternativa de tratamento de diversos tipos de dor crónica, como dor lombar, osteoartrite e dores de cabeça. 


Outras terapias complementares para o idoso com dor crónica

Nos idosos, é importante saber que fenómenos psicossociais associados à idade, como perda de familiares e amigos e perda de independência, podem contribuir para dor e sofrimento.

A dimensão psicológica da dor pode ser tratada usando uma variedade de modalidades terapêuticas, em programas individuais ou em grupo, com técnicas de relaxamento, técnicas de imagem e habilidades de enfrentamento.

A ocupação com atividades agradáveis como a música, leitura, ou outras atividades, pode ser útil no controlo da dor crónica no idoso.

A educação do paciente e do cuidador é essencial. Geralmente os programas incluem informações sobre a natureza da dor, instrumentos de avaliação, uso de medicamentos adequados e modalidades de tratamento não farmacológico.


​Cada caso é um caso

A gestão da dor em idosos representa um desafio particular. Existem muitas mudanças físicas decorrentes do envelhecimento que podem influenciar o processamento da dor.

A dor na população idosa é multifatorial e, para um resultado satisfatório, preconiza-se um atendimento multidisciplinar com associação de terapêuticas não farmacológicas. É fundamental que o profissional de saúde desenvolva competências para avaliar e gerir a dor crónica em pacientes idosos.


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