Longevidade: 6 hábitos que podem limitar a esperança de vida do idoso
Por Sónia Domingues , 21 de Novembro de 2023 Longevidade
Os números são inusitados, nunca como até agora existiram tantos idosos centenários em Portugal. São mais de três mil as pessoas que já contam com mais de cem anos de existência e os idosos com mais de 65 anos já representam quase 24 por cento da população portuguesa. Este fenómeno da longevidade tem vindo a ganhar cada vez mais projeção a nível nacional e internacional, mas afinal de contas, o que é a longevidade? Porque o envelhecimento é diferente entre os idosos? Neste artigo vamos abordar esta temática e analisar os 6 hábitos que podem comprometer a longevidade.
Conceito de longevidade: o que é?
A longevidade pode ser entendida como um termo que refere uma vida longa, mas não se limita a este sinónimo básico. O conceito de longevidade implica que o idoso viva mais tempo e com melhor qualidade de vida.
Ao longo das últimas décadas, tem-se verificado que a esperança média de vida tem vindo a aumentar no nosso país, estimando-se que a esteja nos 83 anos para as mulheres e 78 anos para os homens. O conceito de longevidade pode parecer semelhante ao conceito de envelhecimento, no entanto, difere em algumas coisas. O envelhecimento é o ato natural de tornar-se mais velho, ou aparentar mais antiguidade. Já o conceito de longevidade é considerado para o idoso que vive para além da estimativa, mas se não tiver a mínima qualidade de vida, viver mais anos não traz qualquer proveito.
O que se assiste geralmente é uma heterogeneidade complexa no envelhecimento. Se um idoso com 80 anos mantém todas as suas faculdades intactas, apesar de perder algum vigor físico, outros há que, com a mesma idade, já apresentam muita mais decadência física e mental. O envelhecimento do organismo é natural, no entanto, numas pessoas verifica-se o acentuamento do desgaste provocado pela idade, enquanto outras há que mantém um alto nível de qualidade de vida.
O envelhecimento mais acentuado deve-se sobretudo a hábitos que se criam ao longo da vida e que afetam diretamente a longevidade.
Quais são os 6 hábitos que podem limitar a longevidade dos idosos?
Existem uma série de factores determinantes que afetam a longevidade e a qualidade de vida dos idosos. Muitos idosos acabam por cair em maus hábitos, que provocam doenças várias e a deterioração física e mental, diminuindo a esperança de vida do idoso. Apesar de haver vários fatores que devem ser considerados, como a genética e hereditariedade, existem 5 hábitos que causam o envelhecimento acentuado do idoso, mas que, com o devido suporte, podem ser revertidos.
Tabagismo
O hábito de fumar está intimamente ligado ao aparecimento de diversas doenças, causa o agravamento de outras e é o responsável por milhões de mortes todos os anos. Mas os seus danos podem ser revertidos, mesmo se o fumador for já idoso. Parar de fumar pode ser desafiante para quem fumou durante um longo período da sua vida, mas sensibilizá-lo para os benefícios de largar o hábito de fumar, pode fazer a diferença na sua longevidade.
Mesmo se tratando de um indivíduo que fumou durante décadas, parar de fumar promove a melhoria da tensão arterial quase que imediatamente, o que leva à normalização dos níveis do oxigénio, logo desde o primeiro dia, como também os níveis de nicotina e monóxido de carbono no sangue têm uma queda abrupta de 50%. Em virtude de um nível de oxigénio maior, a capacidade física do idoso vai melhorar nas semanas seguintes e o risco de AVC vai reduzir após cinco ou mais anos sem fumar. Também diminui a prevalência de doenças do foro cardiovascular.
As vantagens de deixar de fumar são mais do que muitas, por isso, nunca é tarde para largar o hábito do tabagismo e garantir maior longevidade
Falta de exercício físico
À medida que vamos envelhecendo, e sobretudo a partir dos 50 anos, o corpo perde massa muscular, mas quando o idoso tem um estilo de vida sedentário e não tem o hábito de praticar atividade física regularmente, esta perda é mais pronunciada. Os músculos auxiliam na manutenção dos níveis normais de açúcar no sangue e na manutenção de uma temperatura regular no corpo. Para além destes benefícios, ainda auxiliam na manutenção do equilíbrio, diminuindo a possibilidade de quedas e fraturas, um dos grandes causadores de problemas de saúde nos idosos.
A Organização Mundial de Saúde refere que o hábito de praticar atividade física durante duas horas e meia ao longo da semana são suficientes para melhorar a longevidade dos idosos. Não é por isso de estranhar, que todos os lares de idosos e equiparados, que sejam legais e de qualidade, tenham um plano de atividades físicas programadas para os seus residentes praticarem, na medida das suas capacidades.
A prática de atividade física regular é um hábito fundamental, que contribui efetivamente para a longevidade do idoso
Isolamento Social
Existem muitos fatores que ditam o crescente isolamento do idoso e que afetam gravemente a sua saúde e que podem afetar a sua longevidade. Muitas vezes involuntário, mas outras vezes sendo auto-infligido, o hábito de se isolar ocorre por muitas razões,como sejam o abandono do trabalho, a morte do parceiro e ou amigos, perda da carta de condução ou receio de conduzir, alguma doença que o torna mais frágil, entre muitos outros fatores. Este isolamento pode criar múltiplas complicações de saúde, como as depressões, muito comuns em idades mais avançadas. Muitas vezes os idosos que estão sós não querem pedir ajuda porque não querem ser um fardo, mas é necessário que a família e as pessoas à sua volta se apercebam do isolamento em que ele está e encontrem respostas seguras para que o idoso tenha uma agenda social preenchida que lhe dê qualidade de vida no seu processo de envelhecimento.
Os familiares e amigos mais próximos têm um papel de maior importância na manutenção de um estilo de vida que promova a socialização do idoso, principalmente quando reside sozinho ou em família. Os lares de idosos habitualmente promovem passeios ao exterior regularmente, mas em casa, apenas a família poderá assegurar este convívio social, levando o idoso em passeios e convívios, que promovem a longevidade do idoso.
O isolamento afeta as capacidades cognitivas do idoso, que não conversa tanto nem tem interações regulares e vai, aos poucos, perdendo algum traquejo mental.
Privação de riso
Pode parecer um detalhe de menor importância, no entanto o riso é um fator determinante na longevidade do indivíduo, porque contribui com uma série de benefícios não apenas para a saúde mental, mas até física. Alguns estudos indicam que o riso melhora a função cardiovascular, porque aumenta o fluxo sanguíneo e reduz a tensão arterial, referindo que rir cem vezes ao longo de um dia produz os mesmos efeitos que dez minutos de atividade física cardiovascular. Não é por acaso que a serotonina é considerada a hormona da felicidade. Existe até uma técnica terapêutica, a terapia do riso, que envolve exercícios de respiração como forma de incentivar o riso e a produção de serotonina. Esta terapia é muitas vezes requisitada por lares de idosos, que pretendem promover a saúde e bem-estar dos seus residentes.
Quando nos rimos, o cérebro produz serotonina, uma substância neurotransmissora que alivia a dor, o stress e é responsável pelo aumento da sensação de bem-estar.
Alimentação inadequada
O idoso pode cometer muitos erros a nível da alimentação e que são desfavoráveis a quem queira atingir a longevidade. O processo do envelhecimento causa alterações a nível morfológico e fisiológico e se o idoso não adaptar a sua alimentação, corre o risco de entrar em défice nutricional. Aliás, uma condição muito comum no idoso e que é erroneamente confundida com o envelhecimento natural é a desnutrição. Esta incapacidade de adaptar a alimentação pode ser por desconhecimento, por hábito ou rotina de uma dieta monocórdica, ou até porque o idoso não tem vontade de cozinhar. Ele poderá vir a sofrer de obesidade ou magreza excessiva, que contribui para uma perda de qualidade de vida. Uma condição nutricional pobre e inadequada na vida do idoso contribui de forma significativa para uma maior taxa de morbilidade e de mortalidade, e compromete consequentemente a sua longevidade.
O Déficit alimentar é muito comum nos idosos, porque não adaptam a alimentação às diferentes necessidades nutricionais inerentes ao envelhecimento
Saúde negligenciada
Quando o idoso descura a sua saúde é pouco provável que atinja a longevidade desejada. O envelhecimento natural pode causar alguns desequilíbrios na saúde que podem descambar numa espiral de problemas médicos que se acumulam e invariavelmente não combinam com uma longevidade e qualidade de vida desejadas. O idoso pode recusar deslocar-se ao médico, não quer ficar em salas de espera repletas de pessoas, ou simplesmente porque será considerado um sinal de fraqueza, que muitos não querem assumir. Ter o hábito de ir a consultas de rotina e fazer exames médicos com alguma regularidade podem assegurar a deteção atempada de sinais de algum desequilíbrio e resolver estas situações com medicação antes que progridam em problemas maiores.
À medida que envelhecemos, é natural que surjam alguns desiquilíbrios que, se não forem tratados a tempo, podem causar uma multiplicação de complicações de saúde
A família tem um papel fundamental na promoção da longevidade do idoso
O primeiro passo a dar para garantir a longevidade é reconhecer os hábitos que podem estar a limitar a esperança de vida do idoso. Mesmo que apenas faça pequenas mudanças na sua rotina, a adoção de comportamentos mais saudáveis podem fazer toda a diferença. O reconhecimento destes maus hábitos também podem levar ao idoso compreender que procurando um apoio especializado, nas áreas que mais necessita, pode garantir uma longevidade com maior qualidade de vida. Mas também a família tem um papel fundamental na longevidade do idoso.
Muitas vezes as pessoas não se apercebem atempadamente que o idoso necessita de auxílio para algumas tarefas e, não raras vezes, o idoso prefere não dizer que precisa de apoio, para não colocar pressão na família ou até porque sempre assumiu um papel de autoridade, que não quer perder, ao reconhecer que necessita de apoio.
Suprindo as necessidades do idoso para garantir a sua longevidade
Assumir que à medida que vamos envelhecendo, vamos necessitar de apoio especializado, não deveria ser um bicho de sete cabeças nem sinal de fraqueza, mas reconhecer que se trata de uma necessidade natural e inevitável, que promove a qualidade de vida e a longevidade do idoso. Há que assumir, sem medos nem vergonhas, que o idoso vai perdendo algumas capacidades conforme vai envelhecendo, mas com o apoio especializado e de qualidade, pode preencher estas lacunas e criar hábitos mais saudáveis, permitindo ao idoso focar-se no seu bem estar e ter mais tempo para focar-se em atividades que mais lhe dão prazer.
Ainda existe um tabu com esta questão do idoso necessitar apoio especializado à medida que vai envelhecendo, mas para garantir a longevidade e a qualidade de vida na terceira idade, devemos, cada vez mais, reconhecer esta inevitabilidade sem quaisquer complexos, e assumir que se trata de um passo totalmente natural e legítimo.