Lares de idosos: a crise europeia pré-pandemia

Por Joana Marques , 02 de Junho de 2020 Lares e Residências


Nos lares de idosos vai sempre haver um antes e um depois da Covid-19. Mas e se lhe dissermos que a pandemia apenas evidenciou que não valorizamos o suficiente os nossos velhos? Continue a ler este artigo e dê-se conta de que os lares portugueses são mais conscientes do valor dos idosos do que outros na Europa e nos Estados Unidos, porque valorizam mais o elemento humano.



Falta de cooperação entre lares e Saúde


​Já aqui demos conta
que em Portugal a pandemia não atingiu de forma tão trágica os idosos em lares. Claro que foram noticiados pequenos surtos e uma percentagem relativamente elevada das mortes por Covid-19 ocorreu em idosos em instituições de apoio, mas estas eram inevitabilidades. 



Um pouco por toda a Europa e EUA, a imprensa refere-se aos lares de idosos como «casas de morte».



Perderam-se vidas nos lares portugueses, mas nada que se compare à desumanização da morte a que assistimos nos lares em Espanha e Itália, por exemplo. Em Portugal, houve um constante diálogo e cooperação entre os lares e as entidades de saúde pública. Perante uma ameaça desconhecida, os lares portugueses cumpriram a sua missão e demonstraram que ser residente numa instituição de apoio não é uma fatalidade!


Em Portugal, os lares tomaram as medidas necessárias para manter a confiança das famílias.



​Regra geral, as medidas certas foram sendo aplicadas consoante a evolução da crise pandémica. Ainda assim, perante o desconhecido e quando foi necessário, as decisões foram tomadas e postas em prática:

  • Testes em massa a funcionários e idosos;

  • Evacuação de instalações para desinfeção, com o consequente realojamento de utentes;

  • Fabrico de máscaras comunitárias para suprir faltas de material (muitas delas feitas pelos próprios utentes!);

  • Sacrifício pelo bem maior, já que foram muitos os profissionais que abdicaram do seu tempo em família para fazer turnos de 14 dias em regime de internato (a todos, o nosso obrigado).




A tragédia da desvalorização dos idosos


Por si só, o facto de o massacre europeu de os idosos institucionalizados não se ter estendido a Portugal é indicativo de que os mais velhos não são valorizados por igual, numa União Europeia que se diz reger por valores morais elevados e humanistas. Imprensa e políticos do norte da Europa olham para os países do sul de cima para baixo, mas foram alguns desses países que tiveram melhores resultados, como é o caso de Portugal e da Grécia.



A Covid-19 só veio evidenciar que o valor atribuído ao idoso varia consoante os países.



Embora existam melhores condições financeiras no Norte da Europa, é no Sul que os laços intergeracionais são mais valorizados. Ainda assim, as famílias têm-se vindo a reconfigurar e a institucionalização dos mais velhos (antes cuidados em casa) é cada vez mais frequente.

A rápida implementação de medidas de confinamento e proibição de visitas faz de Portugal um exemplo a seguir.



As tragédias espanhola e italiana decorreram de uma espiral de desorganização entre os lares e os sistemas de saúde, mas também à dominância de uma atitude perdedora: «agora já é tarde demais». 



Os lares portugueses nunca se sentiram atarantados e isso revela que estas instituições já tinham elevados níveis organizacionais e de eficácia que antecedem a pandemia.


No nosso país nunca se equacionou que os idosos deviam morrer nos lares para que não ocupassem camas de hospital consideradas mais úteis para indivíduos com mais vida pela frente e possibilidades de sobrevivência. Ao contrário dos governos holandês e alemão, os idosos portugueses residentes em lares foram internados nos cuidados intensivos sempre que a Covid-19 testou as suas resistências físicas.



Os idosos continuam a ser pessoas


Foi um português, António Guterres, ele próprio idoso assumido, que afirmou que uma resposta à Covid-19 ou a qualquer outra crise de saúde pública tem que respeitar os direitos e a dignidade dos idosos.



O secretário-geral das Nações Unidas referiu-se ao idadismo, ou seja, à discriminação pela idade, que é particularmente cruel para os idosos e permitiu milhares mortes em lares, anónimas e indignas.



Não foi a Covid-19 que criou a marginalização dos mais velhos. Confirmamos, portanto, o pressuposto que deu origem a esta reflexão: quanto menos valorizados são os idosos, especialmente os que vivem em lares, que estão mais afastados da família, maior é a probabilidade que não tenham as mesmas condições de acesso à saúde e bem-estar.



Portugal não deixou que os seus idosos fossem sacrificados pelos mais jovens e aptos. Só isso já revela que as instituições portuguesas merecem o nosso aplauso.



O «novo normal» nunca voltará a ser o «antigo normal». No entanto, morreram milhares de idosos em instituições na dita sociedade civilizada e de primeiro mundo porque ainda são muito vincadas as atitudes negativas face ao envelhecimento e ao valor que os mais velhos têm.



Estudos da OMS comprovam que o preconceito contra o envelhecimento é mais forte do que todos os outros.



A desvalorização dos idosos residentes em lar prejudica efetivamente a sua saúde e bem-estar, podendo inclusivamente ter um impacto negativo na mortalidade, como se viu durante esta crise pandémica. 

Em Portugal deu-se o exemplo pela positiva e tal só foi possível porque o princípio da dignidade do idoso é tido em conta nas instituições para a terceira idade. E isto é fundamental, porque não só nos define enquanto sociedade, como também evidencia que, se não cuidarmos nos lares dos nossos mais velhos, é a vida dos nossos pais e avós que estamos a encurtar.



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