Gestão de lares: Como manter uma equipa de auxiliares estável e motivada

Por Sónia Domingues , 18 de Janeiro de 2024 Profissionais


A gestão de um lar de idosos é complexa e delicada, porque envolve o cuidado direto a idosos 24 horas por dia em todas as vertentes: alimentação, acomodação, cuidados de higiene, cuidados de enfermagem e cuidados médicos, para além da vertente recreativa, física e social. Mas a contratação e manutenção de uma equipa de auxiliares dedicados aos idosos e bons profissionais será, porventura, uma das tarefas mais complexas que o lar de idosos enfrenta no seu dia-a-dia. 


Na realidade, os lares debatem-se com um problema delicado que é a dificuldade de retenção dos auxiliares. Pela natureza do trabalho, trata-se de uma função que poucos estão preparados para lidar, levando a uma constante rotatividade, principalmente nas grandes cidades, em que há mais oportunidades de emprego. Neste artigo, vamos apresentar-lhe várias estratégias para manter a satisfação dos auxiliares e garantir o bem-estar dos idosos. 

Mas, afinal de contas, o que podemos fazer para evitar a rotatividade de auxiliares e manter uma equipa coesa e completa?



O impacto da rotatividade das auxiliares em lar de idosos 


​Existem vários motivos pelos quais o lar de idosos deve apostar na manutenção de uma equipa estável, principalmente no que toca aos auxiliares, que lidam mais de perto com os idosos. Muitas vezes, estes trabalhadores não estão qualificados para trabalhar com as fragilidades do idoso e o lar investe tempo e dinheiro na sua formação, que são perdidos e irrecuperáveis quando o auxiliar vai embora, mais bem formado e com capacidades que não tinha. Mas muitas vezes o motivo da saída prende-se com a natureza do trabalho.
A sobrecarga física e emocional do auxiliar pode causar stress, ansiedade, problemas musculares, cansaço, dores de cabeça, distúrbios de sono ou depressões.​



​O efeito negativo no estado de espírito da equipa

Esta perda poderá refletir-se no estado de espírito dos colegas, que podem perder alguma concentração e ânimo após a saída do auxiliar. Também representa uma desestabilização de toda a equipa, porquanto terão de lidar com a substituição e, provavelmente, com o tempo perdido na formação de um novo colega auxiliar. Quando o lar não tem uma equipa estável, não há lugar para a criação de uma cultura de trabalho mais eficiente. Corre-se também o risco de perder alguma informação e pequenos pormenores sobre os idosos, que, podendo ser recuperados mais tarde, podem criar algum desconforto nos residentes e na restante equipa.



O efeito devastador nos idosos e nas famílias

É nos residentes idosos e nas famílias que a saída do auxiliar pode causar mais transtornos. Pela convivência e sensibilidade que o cargo envolve, os idosos tendem a criar uma ligação emocional e afetiva com os auxiliares, que se perde quando o colaborador abandona o cargo. 

O residente mais dependente, para além de perder alguém próximo, terá de se habituar ao toque de outra pessoa, que trata da sua higiene pessoal, o ajuda a comer ou simplesmente o apoia na locomoção, acabando por lhe provocar um grande transtorno e causar algum descontentamento ao idoso e à própria família.

​De resto, muitos residentes em lar sofrem de problemas cognitivos e demências e por norma têm mais dificuldade em compreender e aceitar a ausência do auxiliar que  habitualmente cuida dele. Isto pode criar mais resistência ao cuidado diário e é bastante disruptivo do ponto de vista de quem trabalha e pode perturbar os  outros residentes. 



Que medidas pode um lar de idosos implementar para consolidar a sua equipa?


Pela exigência que o trabalho em lar impõe, torna-se desafiante conseguir manter a equipa de profissionais coesa e consolidada. Mas existem recursos que o lar de idosos pode utilizar, de forma a evitar as saídas, com o transtorno que isto causa no funcionamento do lar e das equipas. Alcançar esse objetivo pode ser menos dispendioso do que parece, mas o lar terá de dedicar mais tempo a conhecer os seus auxiliares. A solução para manter os auxiliares consegue-se criando estratégias que visem a felicidade do funcionário. E não é apenas do ordenado que o lar atinge o objetivo de uma equipa estável e feliz. Obviamente que a recompensa financeira é uma parte importante, no entanto, existem outras estratégias que criam a coesão e lealdade da equipa. 



Reconhecer individualmente o esforço realizado

Uma estratégia simples é recorrer à recompensa individualizada, ou seja, encontrar aquilo que motiva aquele profissional em particular, seja validação, reconhecimento pessoal, ou mesmo um pequeno prémio ou presente. Esta postura de reconhecer o trabalho e a dedicação do auxiliar pode fazer a diferença entre um auxiliar desmotivado e um funcionário animado e feliz no seu posto de trabalho. O reconhecimento do trabalho ajuda a aumentar a produtividade e reduz a rotatividade dos funcionários, criando um ambiente de lealdade e compromisso com o lar de idosos



Promover um convívio e um relacionamento familiar 

Promover novas experiências em grupo, com as chefias incluídas, produz efeitos muito positivos nos membros da equipa. Seja celebração do aniversário do lar, eventos de formação ou simplesmente um almoço ou jantar, onde o lar sublinha a importância dos auxiliares e reforça os laços de amizade e lealdade, são detalhes que podem fazer a diferença no dia-a-dia do trabalho no lar. Salvaguardando o funcionamento devido do lar, podem-se fazer eventos dividindo as equipas, para garantir o apoio ao idoso.

Ao promover vários eventos de team building ao longo do ano, o lar vai consolidar os relacionamentos entre os membros da equipa, vai motivar os colaboradores e valorizar a comunicação. Estas atividades devem ser feitas com regularidade, reforçam os laços de amizade entre os membros da equipa.  Desta forma está a criar um melhor ambiente de trabalho, aumentando a produtividade e limitando os conflitos entre pares.



Implementar uma cultura de diálogo e comunicação

O diálogo é fundamental para que o trabalhador do lar se sinta compreendido. Manter as portas abertas para que o auxiliar possa expressar-se é crucial para que este se sinta valorizado. É às chefias do lar que cabe a promoção de uma cultura de diálogo, e ouvir ativamente as questões dos funcionários. Seja para fazer um reparo de algo que não estão a sentir-se confortáveis ou até para partilhar uma ideia, as chefias devem estar preparadas para ouvir com atenção, de modo a que o auxiliar sinta que a sua contribuição é importante e que faz parte integrante de uma equipa.



Conceder diuturnidades e dias extra de férias por antiguidade  

O lar de idosos deve reforçar as vantagens que o auxiliar aufere, ao manter a estabilidade do seu emprego. Existem diversos benefícios que o funcionário pode aceder se se mantiver no mesmo emprego. Para além da óbvia estabilidade, o fato de já conhecer as rotinas e os colegas de trabalho, o lar também pode oferecer vantagens contratuais, nomeadamente as diuturnidades, que constituem um valor extra ao ordenado para o trabalhador que se mantém no lar na mesma categoria profissional sem possibilidade de promoção. Não sendo obrigatórias, as diuturnidades podem constituir uma forma do lar manter a equipa estável.

O lar também pode oferecer dias de férias extra por um determinado número de anos de contrato, por exemplo. Este tipo de benefícios poderão fazer a diferença que motiva o auxiliar para se manter no lar e fazer o seu trabalho com entusiasmo.



Valorizar e dignificar o trabalho das auxiliares 

A função de auxiliar num lar de idosos é subvalorizada por muitos, porque é um cargo com uma remuneração baixa, apesar do ordenado ser apenas uma parte da compensação que o auxiliar aufere. O lar de idosos deve valorizar o profissional através de programas de mentoria ou formações e cursos que lhe vão dar mais ferramentas para fazer um melhor trabalho mas também dignificam o cargo.

​Estes programas funcionam como uma forma de reconhecer o esforço do auxiliar e responder à procura natural de uma evolução profissional na carreira, mas também almejam um amadurecimento interior, criando um sentimento de preenchimento pessoal do auxiliar, perante a carreira profissional que abraçou. As formações e programas de mentoria são fundamentais para a valorização profissional e pessoal do auxiliar, assim como para o lar, que beneficia de uma equipa mais capacitada e eficaz.



A metodologia “humanitude" é um exemplo de formação que tem vindo a ser implementada em alguns lares de idosos com grande sucesso, que gratifica as auxiliares e assegura inúmeras vantagens para os residentes.



A metodologia de trabalho “humanitude" tem vindo a ser implementada em alguns lares de idosos com grande sucesso. Esta técnica combina a humanização e ética dos cuidados com um método muito profissional de cuidado ao idoso. Existem vários programas e formações que ensinam os auxiliares a metodologia Humanitude e que asseguram inúmeras vantagens para os auxiliares e para os residentes. Os auxiliares garantem um método de trabalho profissional e sistemático menos intrusivo e mais digno para a pessoa cuidada, enquanto que o idoso sente-se mais respeitado e diminui a resistência aos cuidados. A implementação desta metodologia de trabalho será uma mais-valia para o auxiliar mas também para o lar, que vai ter certamente um impacto muito positivo dos residentes e das famílias.

O lar pode selecionar alguns profissionais para integrar programas e formações, de forma a que se sintam mais empoderados dentro da instituição, como também reconhecidos e  valorizados pelo trabalho desenvolvido. Por outro lado, este tipo de programas e cursos são uma ferramenta essencial para os restantes funcionários do lar, de terem uma oportunidade de evolução pessoal, como também para melhorarem as suas competências. 



As dinâmicas positivas de trabalho em lares retém as auxiliares


​Os lares de idosos acabam por fazer parte da etapa final da vida de muitas pessoas e, por isso, desempenham uma função fundamental na sociedade e no cuidado dos idosos, quer acamados, que sofrem de demência, quer também dos idosos autónomos, que gostam da sua autonomia mas que precisam de algum apoio. Por isso, é claro que a gestão de um lar é algo muito desafiante. Um problema recorrente que os lares têm é a fixação e retenção dos auxiliares e outros membros da equipa, que trabalham a tempo inteiro no lar. 


O esforço físico e o desgaste mental de trabalhar num lar de idosos exigem desde logo compensações, para que as auxiliares não desistam ou abandonem mesmo a sua profissão.



A incorporação de algumas estratégias que favoreçam um ambiente de trabalho positivo, dedicado e leal é fundamental para conseguir manter os auxiliares. No entanto, o lar de idosos deve investir não apenas na formação prática, mas também na formação de valores e princípios que se coadunem com a responsabilidade social do lar. As chefias do lar devem apostar na liderança pelo exemplo, com comportamentos positivos, ações que motivam os auxiliares e garantem um bom ambiente de trabalho reforçando os valores e os princípios pelos quais o lar de idosos trabalha e que garante a qualidade de vida dos residentes.



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