Coronavírus: Os lares na China e a fragilidade dos idosos
Por Joana Marques , 11 de Fevereiro de 2020 Notícias
2020 ainda está no início, mas já se adivinha que «coronavírus» e «epidemia» são sérias candidatas a palavras do ano. De repente, a população portuguesa ficou alerta para um vírus que já é um velho conhecido dos médicos, mas uma novidade no nosso quotidiano.
A maior parte das vítimas mortais na China é idosa, muitos com problemas de saúde pré-existentes.
Neste artigo, convidamos o leitor a fazer uma viagem até à China para conhecer a realidade desses idosos distantes, que partilham algumas das dificuldades com que os idosos portugueses também se deparam quando a questão é envelhecer com qualidade. Aproveitamos também para lhe dar algumas dicas para que não seja apanhado desprevenido caso o coronavírus chegue a Portugal.
Envelhecimento na China
O envelhecimento da população portuguesa é um dado inquestionável e a crescente necessidade de recorrer a equipamentos sociais e serviços para idosos é tanto uma urgência para as famílias, como um modelo de negócio apetecível. Atualmente, pertencer a uma população envelhecida é um fenómeno universal, característicos tanto dos países desenvolvidos como de países de economia emergente. Um desses exemplos é a China, que desde 2016 tem apostado na melhoria dos serviços prestados à terceira idade e no apoio à construção de lares e centros de dia.
A China tem mais de 170 mil instituições dedicadas ao cuidado a longo prazo dos seniores. Prevê-se que até 2030, a sociedade chinesa seja a mais envelhecida do mundo.
Atualmente, mais de 18% da população chinesa tem mais de 60 anos, o que corresponde a cerca de 250 milhões de pessoas. A população está a envelhecer a um ritmo acima do normal, o que se deve à política de filho único e ao aumento da esperança média de vida. O desenvolvimento da economia do país tem permitido um acesso a melhores cuidados de saúde. Entre 1985 e 2015, por exemplo, a esperança média de vida na China aumentou de 66 para 77 anos, e todas as projecções apontam para que chegue aos 80 anos em 2050 (um terço da população).
A emergência da economia «prateada»
Em 2016, o governo chinês formalizou a abertura do mercado de serviços à terceira idade e definiu como meta que este mercado se tornasse no novo motor de desenvolvimento socioeconómico até 2020. Há uma nova economia “prateada” a florescer na China (uma clara alusão ao aumento de cidadãos de cabelos brancos), mas em termos práticos ainda existe um longo caminho a percorrer no que se refere ao acesso a este tipo de serviços.
A prioridade é a prestação de cuidados a longo prazo de idosos com doenças crónicas e dos cerca de 40 milhões que apresentam deficiências graves.
Os últimos dados disponíveis revelam que atualmente existem mais de 170 mil instituições e entidades a operar no mercado dos lares, centros de dia e cuidados domiciliários, especialmente a nível das comunidades locais, sendo que mais de metade são de iniciativa privada. O objectivo do governo chinês é ser o supervisor deste sector, ao invés de prestador primário.
No entanto, muitos dos lares e centros que têm sido construídos estão desocupados e não são rentáveis.
O esforço que o país está a fazer no sentido de melhorar a assistência aos seniores também se traduziu num aumento da reforma de antigos trabalhadores de instituições públicas e agências governamentais nos últimos 15 anos. Ainda assim, esse aumento não é suficiente para que os idosos, mesmo com o apoio da família, consigam suportar os custos de viver num lar, frequentar um centro de dia ou recorrer a cuidados domiciliários. A título de exemplo, o lar Sunset Senior Care Center, no norte da China, está aberto há quase duas décadas e só deu lucro no ano de 2018.
A realidade em Wuhan, o epicentro do surto coronavírus
Para combater a solidão, os idosos de Wuhan podem ir diariamente a vários centros de dia, pois uma das soluções encontradas na província de Hubei foi a construção de centros de assistência e cuidados domiciliários.
Na China, os idosos preferem ficar a viver nas suas casas. A oferta de cuidados domiciliários e centros de dia na província de Hubei é muito diversificada, embora nem todos possam suportar os custos.
Durante a nossa pesquisa, deparamos-nos com a história de Du Lizhen, uma idosa de 92 anos que vai todos os dias a um centro de dia de Wuhan, que oferece companhia e entretenimento a centenas de idosos. Du Lizhen gosta muito de jogar mahjong, um jogo de mesa chinês, mas também pode optar por ler, fazer exercício físico, dançar e navegar na internet. Existem cerca de 50 centros como este no distrito de Hubei e foram projetados para não estarem a mais de 10 minutos a pé das casas das pessoas que os frequentam.
O surto de pneumonia viral começou na cidade de Wuhan. Até agora já existem cerca de 42 000 pessoas infetadas e mais de 1 000 mortos. Os números estão em permanente atualização.
Desde 31 de Dezembro de 2019, quando surgiu o primeiro caso conhecido de infecção por coronavírus, que a vida os idosos de Wuhan mudou radicalmente. As medidas restritivas de isolamento impedem seniores como Du Lizhen de sair de casa e frequentar centros de dia (ou mesmo receber cuidados domiciliários).
Existem poucos casos de infectados com menos de 60 anos. A população idosa é a mais susceptível de contrair coronavírus.
No entanto, é melhor que assim seja, pois pesquisas recentes revelam que as principais vítimas deste vírus foram pessoas entre os 65 e 80 anos, sendo que muitas já sofriam de doenças pré-existentes associadas à terceira idade, como diabetes, problemas cardíacos e bronquite crónica.
Todo o cuidado é pouco
A melhor forma de proteger os idosos do coronavírus é a prevenção. Na China, tem-se optado pelo isolamento das pessoas. As ruas estão vazias e quem se aventura a sair de casa usa uma máscara. Os mercados foram fechados, pois foi num desses locais de abastecimento quotidiano que o surto teve origem.
Em Portugal não existem infectados. Até agora, existiram alguns casos suspeitos, mas nenhum se confirmou.
Embora tenham sido confirmados vários casos de infecção por coronavírus na Europa, para já o surto ainda não chegou a Portugal. No entanto, isso não significa que as autoridades não estejam atentas. Em conferência de imprensa, a directora-geral de Saúde afirmou que todas as unidades de saúde estão a atualizar, reformular e reavivar os planos de contingência, caso se dê uma escala de infecções.
Como proteger os idosos
Deixamos aqui algumas informações úteis para evitar a eventual contaminação e a propagação deste vírus, que pode ser mortal, especialmente entre a população idosa.
Medidas de higiene:
lavar frequentemente as mãos com água e sabão, especialmente após contato direto com pessoas doentes.
Etiqueta respiratória:
tapar o nariz e a boca quando espirrar ou tossir e para isso utilizar lenços de papel ou o braço, mas nunca as mãos; o papel deve ser deitado no lixo e o braço higienizado.
Adotar práticas seguras:
não partilhar comida, talheres ou outros objetos pessoais manuseados com frequência, como canetas e telemóveis; utilizar máscara cirúrgica, caso a situação o exija.
Ligar para o Centro de Contato SNS24
Caso tenha viajado para a China há menos de 14 dias ou estado em contacto com pessoas que lá estiveram e que apresentem sintomas de infeção respiratória aguda, como febre, tosse e dispneia, ligue para o 808 24 24 24.