A importância do humor na doença de Alzheimer
Por Catarina Bouca , 03 de Setembro de 2019 Demência
A ideia de envelhecimento bem sucedido tem vindo a ganhar cada vez mais importância à medida que a esperança média de vida tem aumentado em Portugal, ao longo dos anos. É necessário ter em conta um conjunto significativo de fatores que irão ser determinantes naquilo que é a expressão de uma velhice sã e graciosa.
Comprovadamente, os estilos de vida são preponderantes na saúde. As escolhas vão influenciar o idoso, facilitando ou, por outro lado, impedindo um final de vida saudável. Neste sentido, o humor aparece como fator determinante na definição de um ou outro caminho.
Tony encontrou no humor uma forma de lidar com o Alzheimer da mãe
Com 91 anos, Elias mudou-se para casa do filho Tony, que começou a notar gradualmente sinais de ausência na mãe, sinais esses que comprovam o diagnóstico de Alzheimer. «Não parecia a mãe com quem eu tinha crescido, apenas uma frágil, minúscula e velha mulher», explicou este filho numa palestra TEDx em maio de 2018. Por essa altura, Tony, que é artista, tinha resolvido parar de pintar e começar a fotografar. E eis que a máquina fotográfica que acabara de comprar revolucionou a sua vida e da sua mãe também…
Enquanto Tony manuseava a nova máquina fotográfica, a sua mãe pediu-lhe que desimpedisse a entrada da casa de banho. Tony afastou-se e deu-lhe passagem. Passados alguns segundos, reparou que Elias bailava devagar em frente ao espelho. Tony não hesitou e começou a fotografá-la. A dado momento, Elias perguntou incrédula ao filho:
«Como fiquei tão velha tão depressa?»
Tony sentiu que a sua mãe tinha muitas mais perguntas para colocar, mas que estas ficavam perdidas entre o pensamento e a fala.
Foi sobre essas ausências que Tony resolveu desenvolver um trabalho fotográfico, que o levou a muitos lugares da vida da sua mãe, inclusivamente às alegres memórias de infância. «Consegui ver a minha mãe alegre, de repente sentia-se querida e necessária. Virei seu companheiro de brincadeiras e parceiro num trabalho que interessava aos dois!» O humor tinha-se tornado numa ferramenta ímpar para uma situação irreversível – o Alzheimer.
«Com este trabalho fotográfico, a chama da minha mãe reavivou e o seu riso sobrepôs-se à tristeza. Graças a isso ganhei alguma tranquilidade acerca da ideia de ser um cuidador a tempo inteiro. A minha mãe tornou-se a minha filha e o humor o nosso principal brinquedo.»
«A diversão tornou tudo surpreendentemente belo.»
Além do projeto fotográfico conjunto, Tony conseguiu ainda pôr a mãe a fotografar. «Incumbia-a de tirar 10 fotografias por dia. À noite, falávamos sobre o porquê de cada enquadramento.»
Com isto, percebemos que Tony não só teve um papel fundamental na vida da sua mãe, mas também naquilo que é o aconselhamento e contágio de uma geração.
Conselhos do canadiano para aqueles que estão numa situação semelhante à sua:
1. «Sejam pacientes!
2. Absorvam e sintam-se gratos pela oportunidade de poderem passar tempo com alguém dependente;
3. Respondam a cada questão como se fosse a primeira vez. Para as pessoas com demência, é mesmo a primeira vez que perguntam.
4. Tornem o seu tempo o mais alegre possível.
5. Encontrem um interesse ou uma atividade em comum.»
Uma abordagem que só traz benefícios
O exemplo de Tony é um excelente caso, não só porque teve enorme sucesso no cumprimento da sua missão, mas porque se trata da concretização prática de muitos estudos teóricos acerca do humor na terceira idade. É certo que o humor não é considerado um tratamento para o Alzheimer ou uma receita milagrosa. A verdade é que estamos perante uma escolha de abordagem para com um doente, que irá ter um conjunto alargado de benefícios e, com toda a certeza, irá sentir-se bastante melhor.
Fonte: Notícia Público