«65% dos cuidadores são mulheres que cuidam a tempo inteiro»

Por Susana Pedro , 11 de Novembro de 2019 Notícias


O dia do cuidador celebrou-se no dia 5 de novembro, precisamente há uma semana. Para nós, não foi o simples assinalar de efeméride, mas sim o início de um novo ciclo na abordagem aos cuidadores informais. Com a criação do Estatuto do Cuidador Informal, este debate foi aberto, e continuamos atentos a toda a comunidade de cuidadores do nosso país.

Reconhecemos o valor daqueles a quem chamámos de heróis através de um diploma simbólico. Para tal, em outubro desenvolvemos um formulário, que nos permitiu ficar a conhecer melhor a realidade destas pessoas.



Quem são afinal os cuidadores informais em Portugal?


Sem grandes rodeios, os cuidadores em Portugal são essencialmente mulheres. No período de atividade do formulário, falámos com 250 cuidadores. Desta amostra, verificou-se a existência de 230 mulheres cuidadoras, o que corresponde a 95% do total.



​95% dos cuidadores são mulheres.

Historicamente, a mulher é associada ao cuidado familiar. Desde sempre que tanto as crianças como os idosos são deixados ao cuidado das figuras femininas. Atualmente, essa tendência está completamente desatualizada, em virtude da luta pela igualdade de oportunidades de género. As mulheres fazem hoje parte da força ativa de trabalho do nosso país. Assumem funções profissionais como qualquer homem, e já não há uma diferença formal de género. No entanto, a esmagadora maioria dos cuidadores de hoje ainda são as figuras femininas.



Maioria tem idade compreendida entre os 40 e os 70 anos.

Estudos indicam que as mulheres, em média, mantêm vida profissional ativa até aos 72 anos de idade, isto é, quase 10 anos depois da idade da reforma em Portugal.  Ora, se verificamos que os cuidadores têm, na sua maioria, idades compreendidas entres os 40 e os 70 anos significa isto que as mulheres conciliam o papel de cuidadora com uma vida profissional.



Necessidade de um apoio do Estado

Associado a este fator, temos a principal reivindicação da comunidade de cuidadores: a exigência de um apoio estatal. Dados referentes a 2019 indicam que o valor médio da reforma recebida pelos idosos é inferior ao ordenado mínimo nacional. A acrescentar a isto, existe um elemento determinante: a diferença do valor das pensões entre homens e mulheres na população idosa.

​Há não muito tempo, as mulheres acabavam por não descontar para fins de reforma. Isto devia-se a dois grandes fatores: a posição da mulher como figura essencial nas tarefas domésticas (ausência de atividade profissional) e a ligação a profissões do campo e a negócios familiares.

Este cenário explica a exigência de um apoio monetário ao governo. O poder de compra em Portugal não está nivelado com os custos associados ao papel de um cuidador. Assim, associada à dificuldade intrínseca em cuidar de alguém surge a incapacidade monetária, o que, por vezes, impossibilita o desenvolver desta atividade nas melhores condições.



Análise das respostas

Estes são alguns dos dados que nos permitem caracterizar detalhadamente a persona do cuidador informal. Entre os resultados obtidos, focámo-nos na localização, no tipo de apoio prestado e nas doenças mais comuns.

Grande Lisboa e Porto lideram respostas

Após o fecho do formulário, verificámos a existência de pelo menos um cuidador por distrito e ilhas, dentro do universo das 250 pessoas. Os distritos de Lisboa, Porto e Setúbal predominam nas respostas de cuidadores, com uma representação de 72%.

Respostas por zona geográfica



69% dos cuidadores são-no a tempo inteiro

Dividimos os tipos de cuidador entre os que prestam cuidados permanentes (24h), os que prestam cuidados após o período laboral e apenas ao fim de semana. 
Os resultados indicam que 69% dos cuidadores prestam cuidados permanentes. Significa isto que empregam toda a sua disponibilidade no cuidado a um familiar, não tendo qualquer atividade profissional.

Tipo de cuidados prestados



Quase 50% reporta casos de demência ou Alzheimer

Entre todos os tipos de doença predomina a demência/alzheimer, a falta de mobilidade associada à doença e as doenças crónicas. Estas, exigem um enorme esforço físico e psicológico do lado do cuidador. Podemos considerar este tipo de doenças como as que mais colocam em risco a saúde mental de quem cuida.
Tipo de doença



O que fica para a história


Não existe nada mais genuíno: os problemas reais contados pela boca de quem os vive diariamente. No formulário, foi criado um campo de carácter facultativo, dedicado à história de vida de cada cuidador. Apesar de opcional, a maioria dos cuidadores não deixou de assinalar a sua marca num Dia do Cuidador Informal diferente dos restantes. 

180 histórias para contar

Destas 180 histórias, não faltaram pedidos de ajuda e alertas em grande escala para a necessidade de apoio ao cuidador. A falta de recursos monetários para a compra de produtos de necessidade básica e a inevitabilidade de venda de património em virtude do cuidado do familiar são dois fatores alarmantes que comprovam a urgência de uma pensão destinada aos cuidadores informais do nosso país.

Um mito para ser desvendado está relacionado com o perfil da pessoa cuidada. Não são só os idosos que necessitam de cuidados permanentes. As histórias que nos contaram comprovam-no. Existem cuidados a sogros, tios, primos e até mesmo filhos. Fique então com algumas das impressionantes histórias que marcaram o passado Dia do Cuidador Informal:


​«É esgotante, mas por não haver apoio ao cuidador não posso deixar de trabalhar... Sinto por isso que muitas vezes falto à minha mãe»


«Se não aguentar toda esta pressão, o que vai ser de todos nós? Já tive um AIT (mini AVC) há 2 anos e suspeitam que me tenha dado outro há pouco tempo»


​«O meu filho, atualmente com 10 anos, é portador de uma doença genética crónica ... Tive que deixar de trabalhar para poder cuidar dele, pois não pode frequentar a escola devido ao risco de infeções»



Missão Cumprida

No assinalar desta efeméride, pedimos a ajuda de toda a comunidade para partilharmos o reconhecimento de mérito do cuidador informal. Uma semana mais tarde os dados indicam que a nossa missão foi cumprida.

Durante o mês destinado a esta iniciativa, entre reações no facebook, partilhas, comentários e diplomas entregues registámos um total de 2 375 impressões. É certo que está longe de uma percentagem representativa da comunidade total de cuidadores, mas, com toda a certeza, contribuímos todos para estarmos um passo mais perto de garantir uma melhoria de qualidade de vida para estes heróis.


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