Principais estereótipos negativos sobre os idosos

Por Joana Marques , 19 de Fevereiro de 2020 Envelhecimento

É provável que o leitor já tenha sido discriminado por causa da sua idade. Talvez numa entrevista de emprego, se lhe disseram que não foi contratado por causa da idade. Ou nas suas relações sociais, se ouviu algo como «já não tens idade para te vestires assim» ou «és demasiado velho para isso», quando na realidade não se sente velho e sabe que a sua idade não é um impedimento para fazer o que quer e lhe apetece. Se ainda não sentiu o idadismo na pele, ou seja a discriminação pela idade, dê tempo ao tempo, pois todos somos candidatos a esta forma de marginalização baseada na idade. 



Ver os idosos como pessoas doentes e frágeis pode levar o profissional de saúde a fazer uma avaliação reducionista ou considerar que os cuidados de saúde não vão ter sucesso ou que valham a pena.



Será que tem consciência das consequências que pode ter nos seus familiares idosos a perpetuação de estereótipos e imagens negativas em relação aos mais velhos? Descubra neste artigo a importância do combate ao velhismo, que no limite pode levar à gerontofobia, ou seja, ao um medo irracional de tudo que se relaciona com o envelhecimento e a velhice, mas fique desde já com a ideia de que o caminho é a promoção de um envelhecimento ativo e participativo.



A desvalorização da velhice

A representação social dos idosos varia consoante as épocas e culturas dominantes. Em tempos mais antigos, os mais velhos eram tratados com deferência e respeito, em virtude da sua longa experiência de vida. Aconselhavam nas atividades do quotidiano, ensinavam as gerações futuras e tinham um verdadeiro reconhecimento social. 



O preconceito em relação à idade gera exclusão, falta de autoestima, problemas de saúde e é uma forma de violência psicológica. O idadismo é uma construção social e cultural e deve ser combatido.



No entanto, atualmente, a figura do idoso não é tão respeitada e valorizada como antigamente. Por exemplo, existem cada vez mais notícias de lares ilegais onde os idosos são maltratados, física e psicologicamente, de filhos que abandonam os pais em hospitais ou lares de idosos porque os consideram um fardo financeiro e emocional ou de pessoas em idade avançada que vivem sozinhas e isoladas, porque se vão tornando cada vez mais invisíveis com o passar dos anos.



O mito da juventude

No universo da publicidade e dos meios de comunicação social, mas também no cinema e nas redes sociais, o valor de referência é a juventude. A velhice é uma espécie de maldição a esconder, porque é sinónimo de fragilidade e estagnação. Diariamente, somos interpelados por imagens e vídeos que apelam aos valores da juventude, da força física e da acção. Ficamos perturbados quando nos dizem que estamos velhos e tentamos esconder os cabelos brancos e as rugas, na esperança de recuperar uma juvenilidade perdida, que é como quem diz a beleza. 


O mito da juventude também está presente nos diversos produtos e serviços, como tratamentos estéticos e de beleza, que proliferam tendo como base a ideia de perpetuação da juventude. Ainda assim, não seria mais saudável, uma vez que já se vive mais tempo, apostar num envelhecimento ativo e de qualidade?



Vivemos numa sociedade que glorifica o novo e que teme o declínio físico e mental associado ao envelhecimento, como se a morte não fosse uma inevitabilidade.



Porém, esta realidade não espelha os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que retratam o progressivo agravamento demográfico. A sociedade está a envelhecer e é expectável que as pessoas vivam até idades tardias com uma boa qualidade de vida, sem doenças graves que condicionem a sua autonomia. Em Portugal, até 2080, o número de jovens diminuirá de 1,4 para 0,9 milhões, enquanto o número de idosos passará de 2,2 para 2,8 milhões. 



A qualidade de vida dos idosos também passa por combater falsas ideias. Não é realista considerar que todos os seniores são pessoas doentes, fragilizada, dependentes, infantis, assexuadas, senis e infantis.



Mesmo vivendo numa sociedade envelhecida, a tendência geral é a depreciação das pessoas idosas, generalizando-se a ideia de que o envelhecimento é sinónimo de doença, incapacidade, isolamento e depressão. Mas será que é assim que os idosos se vêem? E de que forma é que estes preconceitos negativos impactam a vida dos mais velhos? A resposta a esta pergunta é especialmente importante no que se refere à área da saúde, na qual a prevalência deste tipo de ideias preconceituosas pode condicionar a melhoria / promoção da saúde do idoso, tanto a nível hospitalar, como institucional.



Principais estereótipos negativos sobre os idosos

Para que a palavra envelhecer não cause tanto desconforto, precisamos de refletir sobre a forma como encaramos o envelhecimento, que é condicionada pelas imagens negativas que existem sobre os idosos. 



A velhice é associada à debilidade física, à perda de faculdades mentais e a um corpo menos digno, o que contribui para a percepção de que os idosos são todos iguais. Não são e todos têm necessidades diferentes.



Massificou-se a ideia de fragilidade, vulnerabilidade, senilidade, depressão, rabugice, inflexibilidade, infelicidade e pouca ou nenhuma criatividade ou vontade de fazer coisas novas. Estes são os principais estereótipos associados ao envelhecimento e que devem ser combatidos a bem do aumento da autoestima, autoconfiança e saúde mental do idoso. 


Para que seja possível combater estas ideias negativas que existem na sociedade sobre os idosos é preciso termos consciência de que elas existem e que prejudicam o envelhecimento com qualidade. Se dissermos aos mais velhos que eles são inúteis e pessoas sempre doentes, então essa passa a ser a forma como eles se vêem. Leia alguns artigos do nosso blog que explicam como a velhice pode ser vivida de forma ativa e gratificante, a todos os níveis, inclusive o sexual.



Nas idades mais avançadas, o idadismo causa autonegligência e negligência. Ao contribuírem para um papel passivo do idoso, família, cuidadores e profissionais de saúde diminuem a capacidade do idoso para participar ativamente nas decisões mais importantes da sua vida, especialmente na área da saúde e finanças pessoais.



  • O idoso é confuso e desinteressado em relação ao mundo;

  • O idoso é doente e dependente dos outros;

  • O idoso é senil, tem uma memória deficiente, é desorientado e demente;

  • O idoso vive sozinho e na infelicidade;

  • O idoso não se interessa pela atividade sexual;

  • O idoso é inútil para a sociedade e incapaz no trabalho;

  • Os idosos são todos iguais;

  • É quase impossível para a maioria dos idosos aprender coisas novas.



As pessoas não envelhecem todas ao mesmo tempo e da mesma forma. Tratar os idosos como sendo um grupo homogéneo de pessoas doentes, dependentes, assexuais, senis, feios e inúteis, dificulta (ou trava) o seu próprio desenvolvimento social e psicológico. Além disso, a forma como se fala da velhice e do envelhecimento condiciona o funcionamento das pessoas idosas:

- quando há um reforço positivo e os idosos são considerados pessoas inteligentes, sábias e competentes, aumenta a probabilidade de eles serem mais capazes de se movimentarem de forma mais estável e rápida e de obterem estabilidade emocional e mental;

- quando há um reforço negativo, as capacidades funcionais e relacionais do idoso ficam comprometidas, podendo dar-se um aprofundamento dos sentimentos de solidão, depressão e inutilidade.



Somos todos iguais, com idades diferentes

O melhor ponto de partida para combater o idadismo e as suas consequência para o envelhecimento com qualidade do idoso é uma mudança de perspectiva. Institucional, cultural e individualmente, todos devemos dar o nosso contributo. Aqui ficam algumas dicas de como combater o idadismo e promover o envelhecimento ativo, que é um pilar fundamental para o bem-estar físico, emocional e mental para que o idoso viva de maneira participativa e se sinta integrado e bem-vindo na sua comunidade, esteja ele a viver sozinho, em casa de familiares ou num lar da terceira idade.


  • Promover a intergeracionalidade, que contribui para desconstrução do mito da juventude e do sentimento de gerontofobia;


  • Não considerar que os idosos são todos iguais e evitar catalogá-los em relação à idade, condição financeira ou ao aspecto físico. Este tipo de preconceitos pode influenciar de forma negativa o diagnóstico e tratamento, no que à saúde diz repeito, e impedir que os idosos participem nas tomadas de decisão. A discriminação pode desencorajar a aprendizagem de coisas novas, a interacção com outras pessoas e o desempenho de atividades de tempos-livres (animação na terceira idade, passeios e convívios fora de casa), fundamentais para um envelhecimento bem sucedido;


  • Acreditar na prática que velhos são os trapos. Todos estamos num contínuo processo de envelhecimento. Devemos contribuir para que os idosos se sintam incluídos, capazes e úteis, porque amanhã esses idosos seremos nós!


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