Porque teimam os cuidadores informais no reconhecimento do seu trabalho?
Por Susana Pedro , 03 de Janeiro de 2019 Apoios Sociais
Nem sempre a rede de instituições que sustenta a proteção dos mais idosos funciona com a celeridade e condições que seriam desejadas e necessárias. Esta situação vem agudizar-se com o aumento da população envelhecida e, concomitantemente, com o aumento da esperança média de vida.
Quando existe este espaço entre as necessidades verificadas pelos mais idosos e dependentes e a resposta das Instituições, é sobre a família que recai toda a responsabilidade de cuidar do idoso.
Quando aqui falamos de cuidar, estamos a aludir a cuidados prolongados de saúde, que necessitam de vigilância e ação permanentes.
Esta situação faz com que, passando a responsabilidade de cuidar do idoso para a família, por norma a Mulher se assuma como a responsável principal pela diligente manutenção dos cuidados de saúde do idoso. É aqui que aparece a figura do Cuidador Informal.
A importância da ação do Cuidador Informal
Cuidar de uma pessoa em condição absoluta de dependência e em que os cuidados primários de saúde devem ser extremosa e criteriosamente aplicados é, por si só, uma situação de elevado desgaste físico e emocional. Aliada a esta situação de esforço e cedência da sua vontade individual em função do cuidado necessário, o cuidador informal pode, ainda, abdicar da sua estabilidade financeira, ao deixar muitas vezes de lado o seu emprego e/ou a sua carreira, pois só assim é possível garantir a continuidade do tratamento da pessoa com necessidade de cuidados de saúde.
É, portanto, indubitável a importância do papel do cuidador informal no seio familiar e comunitário enquanto garante da dignidade da pessoa idosa. A par disto, não deve ser descurada a importância dada por si a nível económico, se considerarmos que desenvolve um trabalho que sustenta a saúde e o cuidado em relação ao próximo. O cuidador informal é, portanto, um pilar importantíssimo e um recurso humano que deve ser considerado em toda a sua dimensão.
Assevera-se fácil defender a ideia do reconhecimento legal e financeiro do estatuto do cuidador informal.
Uma figura que tanto de si dá em prol do outro ou de outros e que ajusta o equilíbrio da dignidade humana deverá, em qualquer perspetiva, ver apoiada a sua própria existência e condição financeira.
Este tem sido um diálogo muito presente no seio da política e do governo portugueses. Erguem-se as vozes de apoio a estes anónimos que desenvolvem solitária e silenciosamente um trabalho absolutamente necessário.
Pretende-se formação, descanso e benefícios
O trabalho desenvolvido pelos cuidadores informais espraia-se em diversas direções, e estes indivíduos não beneficiam de formação especializada para aplicar devidamente cuidados de saúde que, em muitos casos, podem ser altamente exigentes. Como referimos, não têm qualquer remuneração ou contrapartida do ponto de vista financeiro.
Para além de serem os responsáveis por ministrarem cuidados de saúde com elevado espetro de exigência e sem qualquer treino, os cuidadores informais são a base da manutenção da dignidade do idoso contribuindo para a sua estabilidade emocional. A isto adiciona-se, ainda, o facto de desenvolverem um trabalho sem qualquer baliza temporal, já que não existem limites de tempo para cuidar de quem necessita de apoio.
O valor do trabalho levado a cabo pelo Cuidador Informal
Valores avançados pelo jornal Público estimam que, em Portugal, os cuidadores informais cheguem perto de 1 milhão e que o valor, em termos financeiros, do trabalho por eles desenvolvido alcance os 4 biliões de euros por ano.
A par do debate no seio da sociedade portuguesa, têm sido defendidas várias medidas que possam apoiar o cuidador informal e que reconheçam o valor do seu trabalho:
- Criação do Estatuto do Cuidador Informal;
- Reconhecimento e enquadramento jurídico dos direitos do cuidador;
- Apoio e formação dada ao cuidador informal para que possa eficazmente desenvolver a sua ação;
- Desenvolvimento de estruturas que potenciem o descanso do cuidador informal e de equipas de profissionais que o possam ajudar a lidar com o desgaste emocional;
- Apoio financeiro prestado ao cuidador informal e que o seu horário laboral possa ser ajustado sem perda de vencimento.