Pequenas ações com grande impacto no bem-estar do idoso
Por Joana Marques , 06 de Abril de 2021 Idosos
Os idosos são cidadãos de pleno direito, independentemente da sua idade e situação de dependência. Têm direito à assistência, à saúde, à realização pessoal, à participação, à informação, à justiça e, sobretudo, à dignidade. Os idosos são pessoas como todas as outras e têm direito a viver com dignidade e em segurança, sem que sejam explorados ou maltratados.
Vivemos numa sociedade que valoriza cada vez mais o que é novo e pujante, mas que ironicamente está cada vez mais envelhecida. O aumento da esperança média de vida faz da pessoa idosa uma presença constante no quotidiano da sociedade, mas será que o primeiro impulso é tratá-los com a dignidade e o respeito que merecem?
É necessário apostar na humanização dos cuidados a idosos, reconhecendo-lhes dignidade e respeitando-os em todas as suas dimensões: física, intelectual, relacional e espiritual.
Este artigo tem como objetivo relembrar a importância de tratar os mais velhos com respeito e dignidade, conferindo-lhes o lugar na sociedade que é seu por direito, seja em contexto familiar ou institucional.
Contar que um dia também nós seremos idosos
A prestação de cuidados dignos implica a criação de um ambiente propício à aceitação dos mais velhos enquanto tal. Encarar o ato de cuidar como uma forma de amor pode ser um dado adquirido em ambiente familiar, mas nem sempre é fácil criar um vínculo tão forte quando um idoso está institucionalizado. Transformar o ato de tratar no ato de cuidar é, aliás, uma das principais formas de prestar cuidados humanizados a idosos em lar e uma forma de lutar contra o preconceito em relação à pessoa idosa.
Os cuidadores devem reconhecer o idoso pela pessoa de pleno direito que é, cuja dignidade não diminui com o passar dos anos ou com a deterioração da sua saúde.
Os idosos só podem ser tratados com dignidade se os mais novos aprenderem a viver e conviver com eles. Para que tal aconteça, é necessário que os filhos, netos e cuidadores se mentalizem que um dia também eles serão idosos e também vão desejar ser tratados condignamente. Existe ainda uma série de preconceitos sobre a velhice que por vezes impedem os demais a vê-los como iguais.
O idadismo, ou seja, os estereótipos negativos sobre os idosos, é um dos principais entraves à prestação de cuidados dignos, pois só considerando os mais velhos como pessoas normais é que se criam as condições para que eles possam satisfazer as suas necessidades e concretizar as suas aspirações, dentro das suas capacidades e potencialidades.
Unir esforços para que se instaure uma verdadeira cultura do cuidado
É importante relembrar que os idosos têm o direito de receber cuidados dignos e que tenham em conta a sua história de vida e o impacto do envelhecimento, especialmente quando os cuidadores lidam com idosos em situação de vulnerabilidade, fragilidade ou dependência. Isto também implica evitar generalizações que anulam a dignidade devida aos mais velhos e que não se coadunam com o esforço de proporcionar um envelhecimento ativo e de qualidade.
É inegável que o envelhecimento é, muitas vezes, sinónimo de fragilidades e doenças, mas nem todos os idosos são pessoas doentes, conformadas e diminuídas. E mesmo que algumas se sintam assim, consequência de sentimentos depressivos ou estados demenciais, isso não significa que não devam ser tratadas com dignidade que é, aliás, intrínseca ao ser humano e deve ser respeitada incondicionalmente.
Do conceito à prática: como melhorar os cuidados?
Nem sempre se cumprem os requisitos de qualidade, especialmente em situações limite, que normalmente envolvem idosos muito carenciados e sem apoio de familiares ou lares ilegais. As pequenas negligências podem acontecer em qualquer circunstância, seja num lar licenciado ou durante a prestação de cuidados domiciliários.
No caso dos lares, tal pode acontecer quando o número de pessoal é insuficiente e em qualquer dos casos quando o cuidador não cuida de si em primeiro lugar. Portanto, é necessário que as instituições invistam na contratação de profissionais com formação e com o coração no sítio certo: não é possível cuidar com dignidade se não houver capacidade de estabelecer laços relacionais e empáticos com o idoso.
Em casa, recorrendo ao apoio domiciliário, ou num lar, os cuidados devem ser adequados, suficientes, personalizados e de qualidade.
Não existem fórmulas mágicas, mas todos os que lidam com idosos devem respeitar os seguintes pressupostos:
Cuidar do idoso com o mesmo respeito e empatia que gostaria para si mesmo;
Tratar o idoso como uma pessoa e oferecer-lhe um serviço personalizado, assente na disponibilidade para conhecer o idoso e as suas particularidades;
Criar condições para que o idoso mantenha o nível máximo de independência, de escolha e de controlo, encorajando-o a fazer o que consegue por si próprio.
Pequenas ações com grande impacto no bem-estar do idoso
Existem pequenas ações e atitudes que têm um grande impacto no bem-estar do idoso e que conferem mais dignidade ao seu quotidiano.
Higiene e cuidados pessoais
Uma aparência cuidada reforça a auto-estima e contribui inequivocamente para o bem-estar. Quanto mais limpos e asseados os idosos estiverem, melhor se sentirão. Existem pequenos mimos que podem melhorar o humor e dar ânimo ao idoso, como o cabelo bem penteado, as unhas arranjadas e um cuidado extra na escolha do vestuário, que deve ser um espelho da personalidade e não uma opção feita à pressa. Ninguém gosta de passar o dia de pijama ou mal vestido.
Alimentação
Nem sempre é fácil desenvolver uma ementa que seja do agrado de todos, especialmente no caso dos idosos que estão institucionalizados, cujas refeições são confeccionadas respeitando os valores nutricionais, mas relegando para segundo plano os gostos pessoais. Ainda assim, sempre que possível, especialmente em ocasiões especiais (aniversário, feriados religiosos importantes, Natal, Ano Novo ou Páscoa), deve ser feito um esforço para cozinhar pratos adaptados ao gosto pessoal de cada um. A refeição deve ser um momento de prazer.
Gestão da dor
Os mais velhos são mais propensos a sentir dor, seja ela física ou emocional. A dor, crónica ou temporária, tem efeitos muito negativos no bem-estar físico e psicológico dos idosos e exige da parte do cuidador compreensão e empatia. Ajudar um idoso com dor requer uma sensibilidade extra por parte de quem cuida para reconhecer o sofrimento do outro. Existem tratamentos farmacológicos e não farmacológicos para atenuar a dor física ou psicológica, mas o que deve estar sempre presente é uma atitude digna que tenha como objetivo confortar e dar uma palavra amiga nos momentos mais difíceis.
Privacidade
A privacidade está intimamente ligada com o pudor relativamente à exposição corporal e com o medo de quebras de confidencialidade. Tratar um idoso com dignidade significa também respeitar a sua privacidade e apostar numa prática de cuidados de confiança e parceria, que podem levar à normalização de certas intimidades. Este tipo de atitude reconforta os mais velhos e faz com que eles sentiam uma espécie de controlo, pois não se sentem feridos na sua privacidade se existir uma relação cúmplice com o cuidador.
Conforto como suporte emocional
A insegurança e a solidão são dois dos sentimentos mais dominantes entre os idosos. O conforto tem uma dupla dimensão: a física e a emocional. A dignidade do idoso está assegurada se o ambiente que o rodeia for familiar e aconchegante, se existirem espaços distintos para a socialização e para o recolhimento em privacidade, se a arquitetura tiver em conta critérios gerontológicos (corrimãos, rampas, botões de auxílio, espaços de descanso) e, entre outros, se a filosofia envolvente for propícia à expressão de crenças, ideias e opiniões próprias.
Cuidados dignos como um desígnio para o futuro
A tarefa mais importante de lares e residências, familiares e cuidadores é contribuir para a valorização do idoso e garantir que ele tenha todas as oportunidades para fazer as suas próprias escolhas, dentro do possível. Os cuidados devem ser sempre dignos, independentemente da situação específica em que o idoso se encontra, pois o respeito e a dignidade têm que ser distribuídos em partes iguais, esteja o idoso ou não em plena posse das suas faculdades físicas, emocionais ou mentais.
A aposta para futuro deve ser feita na humanização dos cuidados prestados e na formação de quem presta esses cuidados de forma a que haja um verdadeiro despertar de consciência para o importante papel que os mais velhos ainda têm a desempenhar na sociedade atual, especialmente na vertente intergeracional.