Em pandemia, lar de idosos ou apoio domiciliário?
Por Joana Marques , 02 de Dezembro de 2020 Dependência
Se está numa situação em que o seu familiar idoso já não é capaz de tomar conta de si próprio, chegou a altura de decidir qual é a forma mais adequada de o ajudar. O mercado de prestação de cuidados na velhice e em situações de dependência apresenta várias opções, mas é provável que opte por uma destas duas: lar de idosos ou apoio domiciliário.
As exigências da Covid-19 obrigam a que idosos e familiares sejam ainda mais cuidadosos na ponderação entre a ida para um lar de idosos ou o apoio domiciliário.
Quer saber o que é que é melhor para o seu familiar idoso? Neste artigo, apontamos as vantagens e desvantagens de cada uma destas respostas sociais e quais são os riscos e as garantias de segurança em tempos de pandemia.
Qual é a diferença entre lar de idosos e apoio domiciliário?
A primeira coisa a ter em conta é que o idoso ir para um lar ou ter apoio domiciliário são soluções completamente diferentes.
- A entrada em lar implica uma deslocação do idoso do seu domicílio e esta mudança é, normalmente, mais permanente do que temporária. Esta solução assegura que o idoso está acompanhado por uma equipa multidisciplinar 24 horas por dia, que assegura cuidados de higiene e saúde, mas também acesso a atividades de desenvolvimento motor, cognitivo e pessoal, num ambiente partilhado com outras pessoas da mesma faixa etária.
- O apoio domiciliário consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados na casa do idoso, para que este consiga satisfazer as suas necessidades básicas no conforto do seu lar, como cuidados de higiene e conforto pessoal, limpeza e arrumação da habitação, tratamento de roupas, confeção ou entrega de refeições, transporte, acompanhamento ao exterior e companhia. Se necessário, também inclui cuidados médicos, enfermagem e reabilitação.
Vantagens e desvantagens de cada solução
O apoio domiciliário é muito atrativo porque os custos são inferiores, enquanto for a tempo parcial, comparativamente com o lar de idosos. No entanto, um lar oferece um leque mais diversificado de serviços e atividades.
Um lar garante ao idoso acesso a cuidados básicos e de saúde 24 horas por dia e atividades socioculturais que estimulam o desenvolvimento psicossocial e a socialização, num ambiente seguro e controlado. Por seu lado, o apoio domiciliário é indicado para idosos que se recusam a abandonar o seu lar e preferem, enquanto podem, receber cuidados num ambiente familiar.
A solução ideal é aquela que reúne o consenso da família e, sempre que possível, do idoso.
A grande vantagem do apoio domiciliário é que permite ao idoso usufruir de cuidados no ambiente que lhe é familiar, em que ele se sente mais confortável e protegido. Também existem lares que apostam na personalização dos serviços prestados e que oferecem tanta privacidade como o idoso tem em sua casa se este optar por suítes individuais ou pequenos apartamentos.
Um lar é especialmente indicado para os idosos que, por saúde e dependência, precisam do auxílio de equipamentos técnicos e de instalações adaptadas às suas necessidades físicas. Optar pelo apoio ao domicílio representa uma mudança menos agressiva para o idoso. É uma solução que pode ser introduzida na vida do idoso de forma gradual, aliviando-o numa primeira fase das tarefas domésticas (refeições, compras, limpeza) e tornando-se mais complexa à medida que aumenta o grau de dependência ou agravamento do estado de saúde.
Lembre-se de que o mais importante é a segurança e bem-estar do idoso, pelo que a sua escolha deve recair sobre uma solução legalizada.
Seja qual for a escolha, é importante que se certifique que qualquer uma delas são certificadas e que dispõem de recursos humanos especializados e com formação. Confirme sempre se o lar pretendido está licenciado e dispõe das condições adequadas ao estado de saúde física e mental do seu familiar idoso; ou que o serviço de apoio domiciliário, igualmente, é prestado por instituições licenciadas ou profissionais com supervisão e formação adequada nas áreas de intervenção (cuidadores formais, enfermeiros ou fisioterapeutas).
Riscos e garantias de segurança em tempos de pandemia
O aparecimento da Covid-19 lançou o mundo numa crise de saúde pública sem precedentes e é provável que nada volte a ser como era dantes, em especial no que se refere à forma como são prestados os cuidados a idosos.
O aparecimento da Covid-19 veio alertar para a importância das medidas de proteção individual e da desinfeção e limpeza na prevenção de infeções em idosos.
Em tempos de pandemia, é normal ter receio de tomar uma decisão quanto à prestação de cuidados ao seu familiar idoso. É possível que tente adiar ao máximo a decisão até que a doença deixe de ser uma ameaça à saúde pública, mas na realidade ninguém sabe quando é que as coisas vão voltar ao normal e, entretanto, o seu familiar idoso continua a precisar de ajuda, mesmo que sejam precisos cuidados extra!
Seja lar de idosos ou apoio domiciliário, assegure-se de que são postas em práticas as medidas de prevenção que previnem o contágio por Covid-19.
As notícias de surtos em lares de idosos não contribuem para a confiança nos lares ou nos serviços de apoio ao domicílio, mas tenha em mente que estas instituições seguem rigorosos protocolos de higienização de pessoas e espaços com o objetivo de prevenir e mitigar possíveis focos de contaminação.
O lar de idosos tem protocolos rigorosos
Um lar de idosos licenciado tem um plano de contingência que é acionado sempre que haja uma suspeita de contágio e são diariamente aplicadas medidas de higienização e desinfeção de pessoas, espaços e superfícies.
Acessos aos lares de idosos controlados
- Há um rigoroso controlo de quem tem acesso às instalações: o acesso está vedado a pessoas externas, a não ser pela porta de serviço, desde que estejam higienizadas e utilizem material de proteção individual.
- Existem circuitos diferentes para as entradas e saídas e zona de “sujos”, onde devem ser deixados todos os objetos trazidos do exterior, inclusivamente roupas e calçado.
- As visitas estão condicionadas, têm que ser planeadas com antecedência e cumprir os critérios de distanciamento social, etiqueta respiratória e higienização das mãos.
Idosos sempre protegidos
- É garantido o distanciamento de 1,5 a 2m entre idosos (e entre estes e os funcionários, sempre que não estejam a ser prestados cuidados).
- Sempre que não seja possível manter o distanciamento, os idosos também devem utilizar máscara e higienizar frequentemente as mãos.
Entrada e saída de idosos regulada
- Quarentena obrigatória para novas admissões ou readmissões após ausência temporária.
- O transporte obedece a rigorosas medidas de segurança, que inclui a higienização da viatura, por dentro e por fora, após cada deslocação. Os idosos só estão autorizados a sair do lar em contexto médico (consultas, urgências ou tratamentos).
O apoio domiciliário tem menor controlo
Saídas do idoso tendem a ser mais frequentes
Visitas dependem de bom senso
- Não há qualquer condicionamento de visitas a não ser o bom-senso. Como o idoso está em casa, elas tendem a ser mais frequentes, embora desaconselhadas.
Higiene depende das condições do local
- Deve ser mantido o distanciamento de 1,5 a 2 metros e ter sempre à disposição material de proteção individual.
- Devem ser tidos os mesmos cuidados de higienização da viatura de transporte, mas não há garantias de que a mesma seja devidamente desinfetada por dentro e por fora depois de cada saída.
Em pandemia, lar de idosos ou apoio domiciliário?
Cada uma destas soluções tem vantagens e desvantagens. Em lar de idosos, o controlo das medidas é mais efetivo, pois existe mais supervisão sobre todas as atividades do dia-a-dia. Os lares garantem que o idoso está mais seguro no que se refere à implementação das medidas de higienização e proteção individual, pois o controlo é mais apertado.
No entanto, a ida para um lar pode representar mais riscos porque o mesmo espaço é dividido por várias pessoas, entre idosos e profissionais, o que aumenta a probabilidade de contágio. O apoio domiciliário evita que o idoso esteja em contato direto com outros idosos potencialmente doentes, havendo contato apenas com quem está a prestar os cuidados.
Não existe uma solução isenta de riscos e o contágio pode ocorrer, mesmo estando em prática todas as medidas de prevenção e segurança, já que basta um pequeno descuido para que se dê a contaminação.
Em tempos de pandemia, pode ser mais desafiante para o idoso estar num lar, devido às limitações das visitas e das saídas ao exterior, ao distanciamento físico e à diminuição do número de atividades e oportunidades de socialização.
No entanto, esta é uma situação temporária e os lares estão empenhados em proteger os idosos da Covid-19, recorrendo inclusivamente a quarentenas obrigatórias e testagem profilática. Por seu lado, o apoio domiciliário tem a grande vantagem de garantir o bem-estar psicológico do idoso, que se sente mais confortável e tranquilo na sua própria casa.
Seja qual for a escolha, o importante é que ela seja do agrado de todos e que garanta a segurança do idoso numa altura da vida em que ele se sente mais fragilizado e a necessitar de cuidados extra!