[Covid-19] O que fizeram aos idosos noutros países europeus?
Por Joana Marques , 27 de Maio de 2020 Lares e Residências
Era inevitável que os lares estivessem no centro das preocupações desta pandemia. Ainda antes de a OMS ter declarado que o surto era uma emergência de saúde pública internacional (finais de Fevereiro), já havia a certeza de que as pessoas idosas acima dos 70 anos teriam que ser as mais protegidas.
Desde início que se olhou para os lares de idosos, no que se refere a práticas de prevenção e contenção do vírus. Mas será que os países europeus estiveram à altura do desafio?
Passados mais de três meses após a identificação dos primeiros casos de coronavírus na Europa (a 24 de Janeiro, em França), já é possível fazer uma análise retrospectiva à forma como os lares europeus foram lidando com a pandemia e perceber como ficou Portugal no que se refere aos cuidados em lares durante os tempos de pandemia.
Em Itália e França, grande parte dos idosos em lares nunca foram testados
Desde o início desta pandemia que alertamos o leitor para o facto de a Covid-19 não ser uma sentença de morte para os idosos. Mas será que esta afirmação é verdadeira quando analisamos o que tem acontecido nos lares europeus?
Poder-se-á argumentar que logo no início desta crise não se conseguiu antecipar os milhares de mortes por Covid-19 que têm ocorrido nos lares europeus. Estão a decorrer investigações em Itália, França e Inglaterra para se apurarem responsabilidades a nível policial e judicial, assumindo que a resposta destes países foi lenta e negligente.
Portugal nunca é associado a palavras como «tragédia» e «massacre», mas noutros países europeus milhares de idosos em lares foram, de facto, deixados à sua sorte e à mercê da morte.
Os jornalistas têm descrito a atuação nos lares europeus como «catastrófica», mas também «inimaginável». Nestes países, grande parte dos idosos nunca foram testados porque há falta de testes, ou porque essa é uma preocupação secundária face à pressão exercida sobre os hospitais, que mal conseguem dar conta de tantos internamentos. Não se sabe quantos idosos foram deixados à própria sorte, mas é grande a probabilidade de os números oficiais serem apenas a ponta do icebergue.
A falta de recursos em Espanha transformou lares em «centros de morte»
Noutros paises, não existem estatísticas oficiais sobre o número de casos Covid-19 e os casos reportados referem-se somente aos idosos que morreram nos hospitais.
Na Europa, durante o pico da pandemia houve uma falta crónica de máscaras, luvas, desinfetantes e outros materiais de protecção pessoal. Junte-se a isto a falta de equipamento de protecção pessoal e de recursos humanos (nos lares e unidades de saúde) e facilmente se percebe porque é que no jornal alemão Der Spiegel se chegou a falar em lares transformados «centros de morte», o que chegou mesmo a acontecer em Espanha.
Em Inglaterra, fizeram-se acordos de não-reanimação em lares de idosos
Mais de metade das mortes associadas à Covid-19 no continente europeu ocorreram em residências e lares de idosos, segundo a OMS. Em Itália, as mortes Covid-19 em lares foram comparadas a um massacre silencioso. Em Inglaterra, os lares estiveram muito empenhados na realização de acordos de não-reanimação, ao invés de garantirem que os idosos não eram tratados como doentes «de segunda», que devem dar o seu lugar nos hospitais aos infectados mais novos e com maiores probabilidades de cura.
Para a Holanda, seria um grande erro salvar os idosos em lares a qualquer custo
Holanda chegou a considerar que os idosos não deviam ser institucionalizados. Na Bélgica o conselho foi que os idosos deviam morrer nos lares para não sobrecarregar os hospitais, e na Holanda afirmou-se mesmo que seria um grande erro tentar salvar os mais velhos a qualquer custo.
Isto são só alguns exemplos da «tragédia humana inimaginável», a forma como o diretor regional da OMS Europa (Hans Kluge) ilustrou o facto de mais de metade das mortes Covid-19 no continente europeu terem ocorrido em residências e lares de idosos.