[Covid-19] Como responderam os lares à falta de pessoal?
Por Susana Pedro , 09 de Abril de 2020 Notícias
Entre os dias 2 e 7 de abril, o Lares Online promoveu uma sondagem juntos dos responsáveis de lares licenciados pela Segurança Social. O objetivo desta sondagem era perceber como estavam as equipas de profissionais destes lares. A primeira preocupação foi perceber se havia muitos profissionais a faltar, consoante a categoria de trabalho que desenvolvem, e qual o motivo da falta.
Após isto, quisemos saber sobre as tentativas de recrutamento de profissionais. Tivemos em conta as tentativas do Governo de manter um fluxo saudável de profissionais, como o incentivo a pessoas que recebam o fundo de desemprego e os estudantes de áreas ligadas à saúde em reforçarem os quadros de pessoal dos lares.
Para esta pergunta contribuiu também o recrutamento de voluntários. É de recordar que os lares de idosos precisam de voluntários em grande medida, mas especializados. Para algumas funções, como ajudante de cozinha ou lavandaria, pode-se recorrer a voluntários que não tenham experiência, mas no cuidado direto aos idosos isso não é possível.
Também, finalmente, perceber qual foi a forma de encarar a pandemia e se houve algumas medidas adicionais relativas ao trabalho dos colaboradores dos lares. Vamos ver, afinal, como responderam as equipas dos lares ao Covid-19?
Participaram na sondagem 184 lares licenciados
Tivemos uma resposta mais ou menos equitativa de todas as dimensões de lares de idosos. Isto à excepção flagrante dos lares de pequena dimensão, com número de utentes entre os 4 e os 10, visto que se trata apenas de 3% das respostas que obtivemos.
81,4% dos profissionais a faltar prestam assistência aos idosos
Quando se trata de número de colaboradores em falta, vemos claramente que se tratam dos Ajudantes de Ação Direta (516 ajudantes em falta). Se adicionarmos a esta categoria os Ajudantes de Ação Direta do período noturno e os empregados auxiliares, verificamos que mais de 900 profissionais que cuidam de idosos diretamente estão em falta, e isto em apenas 184 lares.
Os profissionais que menos faltam são os administrativos. Tendo em conta que são eles a gerir as suas instituições e também pela possibilidade de realizarem grande parte do seu trabalho a partir de casa era de expectar esta realidade. De salientar que alguns enfermeiros se encontram a faltar ao seu trabalho em lares de idosos por terem de dar primazia ao Serviço Nacional de Saúde.
A esmagadora maioria das faltas deve-se à Covid-19
Verificamos também uma grande prevalência de baixas médicas, que podem estar ou não relacionadas com o Covid-19. No entanto, estas baixas médicas revelam também um bocadinho da dificuldade de realização deste trabalho. O trabalho em lar de idosos não é fácil, física e mentalmente, principalmente para aqueles que lidam diariamente com os idosos. Todo o cuidado, os banhos, as demências, são muito desgastantes e levam muitas vezes a baixas médicas.
Importa ressalvar que estas 6 faltas por infeção infelizmente não retratam a realidade dos lares em Portugal como bem sabemos. Os lares afetados por casos de infeção da covid-19 em larga escala não tiveram capacidade para responder à sondagem e, como tal, não estão representados nesta análise.
74% dos lares de idosos tentou recrutar profissionais nos últimos 60 dias
Dos 184 lares licenciados que sondámos, apenas 48 disse sem rodeios não ter feito recrutamento nos últimos 60 dias. Todos os outros, por necessidade, tiveram de fazer recrutamento para colmatar as faltas nos seus quadros de profissionais.
Dos 136 lares que admitiram estar a recrutar profissionais, 33 não conseguiram recrutar nem uma pessoa. Quer isto dizer que 103 lares conseguiram recrutar nos últimos 60 dias.
Nos lares que albergam mais de 21 idosos, este recrutamento é mais necessário, e isso reflete-se nos números: mais de 95 lares com esta dimensão conseguiram recrutar.
Por outro lado, os lares de pequena dimensão, com menos de 20 utentes, apenas conseguiram recrutar 8 pessoas.
A falta de candidatos é a maior dificuldade
Muitos lares não conseguiram recrutar profissionais nos últimos 60 dias. A maior dificuldade que revelam é a falta de candidatos (81 lares dos 184 referiram esta causa). Este é um problema do setor, mas que se agudizou com toda a situação de pandemia. Os números de mortes e infeções em lares espanhóis minou muitos dos potenciais interessados. Mas este é um problema também dos próprios responsáveis dos lares, visto que muito deles referiram que um dos entraves à contratação de novos funcionários é precisamente o medo da Covid-19.
Apenas 4% dos lares não tomou medidas extraordinárias
Face às dificuldades de recrutamento para colmatar as faltas de pessoal, os lares tiveram de fazer alguns ajustes a nível dos horários e turnos dos profissionais de que dispõem. Estas medidas, seguindo as diretrizes da DGS, também revelam um cuidado acrescido pelos idosos institucionalizados. 96% de lares tomou algumas medidas, sendo que 74% tomou medidas consultando toda a equipa de profissionais. Em 22% dos lares, no entanto, as medidas extraordinárias foram tomadas sem o envolvimento dos profissionais.
Medidas extraordinárias basearam-se em horas extra e turnos de trabalho interno
Para proteção dos idosos, a ministra da Saúde tinha anteriormente dado algumas recomendações, que se refletem na maioria das medidas tomadas pelos responsáveis de lares sondados. A grande maioria aplicou horas extraordinárias e turnos rotativos de trabalho interno.
Foram 75 os lares que acharam mais benéfico para os idosos manter os trabalhadores internos entre 3 a 14 dias e, posteriormente, enviá-los para casa o mesmo número de dias em isolamento profilático. Apenas 3 lares admitiram isolar no recinto do lar um número de profissionais necessários sem termo definido. De salientar que muitas vezes as medidas foram tomadas em simultâneo. Isto é, um misto entre equipas fixas, em que os profissionais trabalham sempre com as mesmas pessoas, e a constituição de turnos rotativos de trabalho interno.
90% dos lares não consegue recrutar voluntários
Apesar das medidas do Governo e de Associações em criar bolsas de voluntariado para combater o Covid-19 em lares de idosos, apenas 10% dos lares conseguiu recrutar voluntários nos últimos 60 dias. Destes voluntários, 68% assume funções não especializadas. Estas funções normalmente prendem-se com atividades de apoio na cozinha e lavandaria, ou entretenimento/conversa com os residentes idosos. Apenas 32% dos lares tem voluntários especializados, que ajudem nas funções das Ajudantes de Ação Direta.
Passou o tempo de refletir: agora é necessário agir
Mais do que demonstrar os números que retratam a realidade atual dos lares em termos de gestão interna, queremos alertar para a necessidade de auxiliar estas instituições. Sabemos que vão várias as medidas que têm sido adotadas especificamente para os lares de idosos e que estes são um dos principais focos do governo. No entanto, como podemos verificar, à data de hoje ainda são muitas as instituições com falta de funcionários e que demonstram não conseguir reforçar as suas equipas por via de voluntários ou pelos mais recentes programas de recrutamento do IEFP.
Importa ainda referir que do universo de 184 lares que deram resposta cerca de 60% são sem fins lucrativos e 40% correspondem a lares privados. Existiu pelo menos uma resposta por distrito. Cerca de 66% das respostas provém de Diretores Técnicos, os quais têm um conhecimento detalhado sobre cada campo de atuação dos lares.