[Covid-19] Burlas e fraudes que se aproveitam da pandemia
Por Susana Pedro , 27 de Março de 2020 Idosos
Num período de crise, o desespero das pessoas leva-as a extremos. Se falarmos de uma crise de saúde pública global, como a que atravessamos agora com os surtos de Covid-19, isto é ainda mais verdadeiro. A sociedade está em pânico, com os idosos e grupos de risco em primeiro lugar.
Dos óleos essenciais às máscaras de pano caseiras que pode fazer em casa, não faltam supostas soluções para minimizar os riscos de infeção.
Mas estas e outras soluções que circulam pela internet fazem parte de um conjunto de esquemas que nada têm de verdadeiro. Algumas podem ser consideradas autênticas fraudes e ser usadas para burlar os mais indefesos.
Ora vamos perceber em que consistem e como podemos proteger os idosos de burlas que aproveitam a Covid-19 para proliferar.
Existem diversos tipos de burla e fraude
Desde o primeiro momento em que se percebeu que a Covid-19 seria um risco que houve diversos negócios que aproveitaram o momento. Assistimos em vários estabelecimentos a preços altamente inflacionados de álcool-gel e máscaras faciais. Surgiram aplicações móveis para saber a evolução da pandemia, que acabavam por exigir dados pessoais para «funcionar», quando na realidade eram apenas uma burla.
Seja através de email, mensagem de texto ou do whatsapp, as pessoas confinadas às suas casas são mais susceptíveis de acreditar nas notícias falsas e sem fundamento.
Toda a gente quer manter o otimismo e saber o que se passa no mundo, por isso é que aplicações como a Covid-19 Tracker surgiram e burlaram pessoas. Todos os emails, mensagens e posts nas redes sociais que falem de aplicações para acompanhar a evolução da pandemia, curas miraculosas, campanhas de vacinação (mesmo as supostamente recomendadas pelo Serviço Nacional de Saúde), venda de material de proteção individual e angariações de fundos são suspeitos.
É preciso ter em mente que ainda não existe uma cura
Todas as curas milagrosas com base em consumo de bebidas quentes, consumo de alho em grandes quantidades, alguns óleos essenciais ou mesmo suplementos e comprimidos vitamínicos não funcionam.
As vacinas que protegem contra a Covid-19 ainda estão a ser desenvolvidas e testadas. Ainda que fosse mais fácil pensar que tudo está em vias de se resolver, pode ser perigoso confiar estritamente em óleos essenciais milagrosos e curas feitas em casa.
Os idosos são um grupo de risco também para as burlas
Os idosos são um público fácil para os burlões, porque têm poucas defesas, principalmente nos meios digitais. Ainda que muitos idosos utilizem o email, os seus telemóveis e até redes sociais, nem sempre as suas navegações são livres de risco.
Isolamento profilático contribui para menor sentimento de segurança
Nos lares de idosos ou nas suas casas, com o isolamento profilático ou quarentena, este risco só aumenta, pois o relacionamento interpessoal está muito reduzido por questões de segurança. Assim sendo, acabam por se refugiar na tecnologia, falando com os familiares por chamada ou videochamada e navegando por várias páginas.
Indícios de uma possível fraude
Existem alguns sinais de que o email ou a mensagem que recebeu são fraudulentos.
Erros flagrantes de formatação e conteúdo
Se não identificar de imediato o nome ou endereço de quem lhe enviou a mensagem, vale a pena prestar muita atenção. Todos os erros ortográficos e inconsistências gramaticais são sinais flagrantes de fraude. As comunicações oficiais raramente têm uma gralha, e passam pelos olhos de inúmeros profissionais. Estas comunicações são sempre em português, pelo que não confie em traduções de página ou outros idiomas. Não clique em nenhuma hiperligação que não identifique como segura.
As Entidades Oficiais podem não ser o que parecem
Se o remetente for uma entidade oficial, como a Direção-Geral de Saúde ou UNICEF, verifique nos sites oficiais se há algo que sustente a informação que lhe foi enviada. Principalmente se falar em promessas desmesuradas, como testes gratuitos para a Covid-19 ou um produto que permite retardar ou curar este vírus. As entidades oficiais também não lhe pedem dados pessoais através de email ou mensagem, pelo que se este é o caso, não clique em nada.
Utilize sempre sites fidedignos
Todos os downloads de aplicações, seja de monitorização de saúde ou de informação acerca da Covid-19, devem ser feitos através da Google Play Store ou da App Store. Se for apresentado outro meio de fazer um download, desconfie.
Como pode apoiar os idosos?
Existem três momentos muito importantes para poder ajudar os idosos a evitar burlas e fraudes.
1 - Estar atento aos esquemas que existem e informar o idoso
Se se mantiver atualizado, consegue mais facilmente alertar os idosos para alguns esquemas que possam aparecer. É mais preventivo explicar ao idoso porque é que ainda não existem vacinas que combatam a Covid-19. Assim, não corre o risco de, num site ilegítimo, o idoso «encomendar» vacinas para toda a família.
2 - Manter muito envolvimento na vida do idoso, mesmo num lar de idosos
Fale regularmente com o idoso, seja presencialmente, por telefone ou videochamada. O isolamento leva o idoso a sentir-se sozinho. Mostre que está presente e que o idoso pode falar consigo. É menos provável que ele procure apoio em esquemas de burla se sentir que tem segurança emocional junto de si. Mantenha diálogo aberto e aborde também os temas financeiros, de forma natural e descontraída.
3 - Não julgar ou diminuir o idoso em nenhum momento
Se mantiver um diálogo aberto e sem julgamentos, abre caminho para confidências. O idoso não irá ter consigo a não ser que tenha muita confiança, pelo que é necessário manter contacto diário. Assim, poderá saber em primeira mão se o idoso encomendou um amuleto milagroso ou se tem utilizado uns suplementos vitamínicos que apareciam no facebook. Mesmo que o idoso já tenha sido vítima de alguma burla, é importante manter o positivismo e explicar-lhe o mais simplesmente possível o que aconteceu e como o pode evitar de futuro.
Se identificar uma burla ou fraude
O primeiro passo é verificar quais foram os danos que lhe foram causados. Foi-lhe exigido dinheiro diretamente? Os burlões tiveram acesso a dados sensíveis como palavras-passe ou dados bancários? Algum dispositivo (telefone, tablet) foi inutilizado? Perdeu o acesso a uma página de alguma rede social?
Depois de saber ao certo o que aconteceu, e em que foi lesado, pode reportar a sua experiência ao CNCS (Centro Nacional de Cibersegurança) através de email (cert@cert.pt) e às autoridades criminais, como a Polícia Judiciária. Caso tenha havido acesso a dados bancários, é preferível que alerte também o seu banco, de forma a precaverem-se contra transferências ou levantamentos indevidos.