[Covid-19] Atividades simples com idosos em contexto de crise
Por Joana Marques , 30 de Março de 2020 Profissionais
A pandemia de Covid-19 está a destabilizar as rotinas dos mais velhos que estão institucionalizados em lares de idosos. Nesta fase de crise, em que há um aumento diário de pessoas infectadas, é fundamental que se cumpram todos os procedimentos recomendados pela DGS para que os lares continuem a ser um dos locais mais seguros para os idosos. No entanto, isso não pode significar que os idosos deixem de praticar atividades físicas e socioculturais, que neste momento estão suspensas ou muito restringidas. É necessário continuar a proporcionar pequenos momentos de alegria e descontração, especialmente no cenário de crise de saúde pública que vivemos atualmente.
Por questões de segurança, os lares de idosos dispensaram os animadores socioculturais, mas os idosos continuam a precisar de momentos de descontração e de estímulos físicos, mentais e emocionais.
Em condições normais, os colaboradores dos lares já têm o seu quotidiano profissional totalmente preenchido com as tarefas do dia-a-dia; neste contexto de crise, todos estão sobrecarregados com o cumprimento dos cuidados redobrados no que se refere à higienização, mas também devido a algumas falhas de pessoal (ausências temporárias devido à necessidade de dar apoio à família ou por suspeitas de infeção, por exemplo). Sobra, por isso, pouco tempo para desenvolver atividades com os idosos, na ausência dos animadores socioculturais.
Neste artigo, adaptamos ao cenário de crise algumas sugestões de atividades simples, sem custos adicionais e fáceis de concretizar, para que os idosos não se sintam ainda mais angustiados pelas quebras na rotina, especialmente no que se refere à suspensão de saídas ao exterior, em grupo ou individualmente, e ao vazio deixado pelas restrições nas visitas de familiares e amigos.
É importante não parar as atividades gerontológicas
É natural que os idosos institucionalizados se sintam angustiados e emocionalmente mais fragilizados devido às medidas restritivas que obrigam ao isolamento e distanciamento social. É fundamental que se cumpram os procedimentos impostos pela DGS e de algumas regras mais rígidas que os lares adotaram com o objetivo de conter o avanço de Covid-19 entre a população mais idosa, que continua a ser a que mais preocupa as autoridades de saúde pública. No entanto, tantas restrições de convívio podem dar origem a sentimentos de solidão, tristeza e insegurança.
As medidas de confinamento podem representar um elemento adicional de ansiedade, pelo que é essencial que os idosos se distraiam com atividades e que se sintam envolvidos neste período de quarentena, sem fim à vista.
Por um lado, é possível que os idosos tenham mais dificuldade em dormir e em se sentir relaxados, uma vez que todos os pensamentos estão monopolizados com o medo de contrair um vírus potencialmente mortal. Por outro, neste contexto existe pouco tempo e indisponibilidade por parte dos funcionários dos lares em manter os idosos envolvidos e animados.
É imperativo que não se instale a inatividade
Esta pode dar origem a retrocessos no que se refere à capacidade de concentração, coordenação e reação, mas também a processos de auto-desvalorização, diminuição da autoestima, apatia e desmotivação, numa altura em que já é difícil manter o optimismo e a paz de espírito.
Os colaboradores que têm como funções a manutenção das rotinas diárias do lar vão ter assumir uma missão igualmente importante: a criação de novos espaços de expressão e comunicação, que facilitem a adaptação do idoso às novas realidades criadas pela pandemia de Covid-19.
Os idosos devem sentir-se envolvidos e acarinhados
Em situação de crise não é possível cumprir um plano de atividades previamente organizado para ocupar os tempos livres dos idosos e promover a sua valorização pessoal através de atividades individuais e coletivas que potenciem o seu bem-estar físico e psicológico.
O confinamento implica que fiquem suspensas todas as atividades comunitárias locais e as intergeracionais, que muitas vezes se realizam com o apoio da família e cuidadores.
É necessário compensar as carências emocionais decorrentes da suspensão das visitas de familiares e amigos. A ausência do animador sociocultural também pode ter um impacto negativo nos idosos, pois este é muitas vezes encarado como um amigo, um confidente e até conselheiro, fazendo também parte das suas funções estar disponível e presente na vida dos idosos, dando-lhes a atenção e o carinho de que eles tanto precisam.
Desse modo, nesta fase, o mais significativo é garantir que os idosos se sintam emocionalmente seguros e manter os laços de solidariedade entre o grupo. No mínimo, os idosos devem ser incentivados a participar ativamente na proteção individual e de todos e a ter consciência da importância que têm o respeito das regras extraordinárias que foram impostas para o seu próprio bem.
Sugestões de atividades em contexto de crise
Dentro do possível, as atividades devem decorrer nos mesmos espaços que eram utilizados anteriormente (como a sala de convívio ou o jardim), para que exista uma sensação de continuidade e se mantenham algumas rotinas.
1 - Manter os idosos informados sobre a situação de Covid-19
Sugere-se a criação de um momento diário dedicado à leitura de notícias ou ao visionamento de telejornais, para que os idosos se mantenham a par da evolução da pandemia, em Portugal e no mundo.
Um exemplo prático: sentar os idosos em círculo e falar abertamente sobre os receios de cada um e esclarecer, através do diálogo, as dúvidas que vão surgindo.
A melhor forma de acalmar a apreensão dos idosos é mantê-los informados e conversar com eles sobre o que se passa, reforçando sempre que estão a ser postas em prática todas as medidas preventivas e de segurança para que o vírus não entre no lar. Deve manter-se a capacidade de comunicação, e escuta ativa, de forma a desmistificar medos e inseguranças.
2 - Reforçar os momentos de contacto com a família e amigos
Muitos lares optaram por suspender as visitas, por isso é muito importante que os idosos sintam que têm um momento específico em que podem contatar com a família e amigos com recurso às novas tecnologias.
Uma boa prática é disponibilizar écrans de grandes dimensões e ligação à internet para que os idosos vejam e falem em tempo real com as pessoas de quem sentem mais falta .
A solidão é um problema que afeta muitos idosos institucionalizados e o facto de sentirem que estão impossibilitados de estar fisicamente com a sua família pode despoletar ou agravar situações de ansiedade, alterações de humor e até pensamentos depressivos. As novas tecnologias (Skype ou WhatsApp, por exemplo) são um fraco substituto para os abraços e beijinhos de que os idosos estão privados neste momento, mas ajudam a diminuir as saudades e o sentimento de isolamento.
3 - Manter atividade física diária adaptada ao contexto domiciliar
Está fora de questão fazer caminhadas ou dar passeios fora das instalações dos lares, mas é essencial que os idosos façam uma prática diária de exercício físico ligeiro, para que se mantenham os ganhos funcionais e evitar a perda de massa óssea e muscular. A atividade física gera boa disposição e é benéfica para o sistema imunitário, o que é essencial na prevenção contra a Covid-19.
Devem ser realizadas práticas diárias que treinem o equilíbrio, o fortalecimento e alongamento muscular e promovam a ativação do sistema circulatório.
Podem-se utilizar objetos do dia-a-dia, como cadeiras ou cabos de vassoura, desde que devidamente higienizados, para a prática de agachamentos, alongamentos e elevações de braços e pernas. O idoso deve ser incentivado a utilizar o próprio corpo, respeitando sempre as suas limitações físicas. Se o lar tiver jardim, podem ser feitas pequenas caminhadas em segurança ou, se o tempo estiver ameno, aproveitar simplesmente para relaxar ao ar-livre, junto da natureza.
4 - Incentivar a comemoração de aniversários ou datas especiais
Os idosos são os que mais riscos correm se contraírem a doença Covid-19, por isso a ideia é preencher o seu dia com algumas atividades simples que os façam esquecer por momentos uma ameaça invisível, sem fim à vista.
Mesmo longe da família e dos amigos, devem-se comemorar os aniversários e outras datas significativas.
Os idosos que gostam de cozinhar podem fazer um bolinho para o lanche. Sugere-se a organização de chás temáticos e de um almoço de celebração da Páscoa.
Os mais velhos adoram partilhar as suas histórias e falar sobre o seu passado e os momentos que os marcaram de alguma maneira, sejam eles positivos ou negativos. Por isso, pode-se organizar semanalmente um «Chá com Histórias», à hora normal do lanche, e proporcionar um momento diferente de descontração e sociabilização.
5 - Apostar em atividades simples que estimulem a mente
Se não estiverem envolvidos em atividades planificadas, os idosos tendem a falar entre si, ver televisão ou dormitar. Na ausência do animador, podem ser postas em prática ocupações simples, que os estimulem mentalmente, e que podem ser feitas em conjunto.
E que tal organizar uma tarde de cinema ou de leitura conjunta? Organizar um torneio amigável de cartas ou de jogos de tabuleiro, já que estas são das atividades preferidas dos idosos.
Mesmo que não exista muito tempo disponível para organizar atividades, o que é realmente importante é que os idosos se sintam acompanhados. Muitas vezes, os mais velhos querem é ter alguém com quem conversar, que os ouça e os faça sorrir.
Em tempos de crise, quando pode estar em risco a saúde de uma população tão vulnerável, dois dedos de conversa e uma palavra amiga é quanto basta para que o idoso se sinta menos sozinho e isolado.