Compreender a depressão na terceira idade
Por Ana Palma , 24 de Junho de 2019 Envelhecimento
Temos vindo a aludir às modificações físicas, cognitivas e sociais potenciadas pelo envelhecimento. Assim, a solidão decorrente da perda de atividade ou conexão social associada à perda de um ente querido, como o companheiro (a), a possibilidade de perda das funções motoras ou a degeneração das capacidades cognitivas vêm precipitar o aparecimento da depressão na terceira idade.
O envelhecimento potencia a depressão
De facto, as duas temáticas parecem estar intimamente correlacionadas: depressão e envelhecimento.
Temos vindo a assistir a modificações na sociedade contemporânea que se caracterizam pela alteração profunda dos comportamentos sociais. Numa sociedade cada vez mais individualista e com prevalência das relações laborais em detrimento da ligação coletiva e criação de pequenas comunidades de suporte, a solidão das pessoas idosas tem sido, infelizmente, bastante notória. Esta ausência de uma rede de apoio e consequente afastamento da pessoa idosa de uma vida social ou de uma comunidade para a qual pode ativa e positivamente contribuir vêm potenciar a instabilidade psicológica que acaba por declinar na depressão.
Uma reação à solidão e quebra ou ausência de laços sociais
Não nos olvidemos que o ser humano é, por natureza, um animal que sobreviveu desde os primórdios por estar integrado num grupo. Logo, quando perde esta estrutura social, a produção do sentimento associado à solidão parece inevitável.
É, portanto, necessário trabalhar a sensibilidade e empatia para compreender o impacto que a solidão poderá ter na terceira idade. Dela decorre, com uma prevalência bastante notória, a depressão.
Uma causa fundamental da incapacidade na terceira idade
A depressão está associada a alterações ao nível do comportamento social e emocional que se plasmam na decadência do vontade de participar socialmente, de realizar atividades que possam gerar prazer, na incapacidade de encarar o futuro de uma perspectiva positiva, na perda de apetite e numa alteração dos padrões do sono. Tudo isto poderá, inclusivamente, desembocar numa incapacidade de funcionar de um modo mais holístico.
É importante reconhecer e saber intervir
Escutar ativamente os idosos e observar o seu comportamento
Para melhor se compreender a depressão na terceira idade, os técnicos terão de saber escutar ativamente os idosos prestando um especial cuidado aos seus comportamentos ou alteração dos mesmos. Devem, concomitantemente, estar despertos para uma plêiade de fatores que, resumindo, podem potenciar esta situação.
Desde logo, a própria institucionalização da pessoa idosa é, muitas vezes, encarada por ela como algo negativo. Para além disto, e como sublinhámos, a solidão decorrente da quebra de ligações sociais. Para isto, podem contribuir acontecimentos tais como a perda de um companheiro (a), o declínio de uma espécie de estatuto social adquirido durante a vida ativa e consequente contribuição para a sua comunidade/família, as condicionantes físicas que advêm da idade ou a dor crónica de onde poderá derivar um certo grau de dependência física.
Auxiliar o idoso que padeça de depressão a reorientar-se socialmente
É importante que exista a intervenção de um profissional especializado que possa identificar esta situação e perceber os fatores que a motivam para que se possa agir e tratar em conformidade. O principal objetivo desta intervenção é auxiliar o idoso que padeça de depressão a reorientar-se socialmente. Assim, têm-se afirmado bastante pertinentes para esta reorientação e tratamento, a realização e estímulo de atividades artísticas.
Claro que, em casos em que o profissional denote a predominância de uma depressão mais aguda o tratamento de poderá fazer acompanhar por soluções de ordem farmacológica.
Para além de um tratamento farmacológico para casos mais severos, da terapia ocupacional, o exercício físico vem também auxiliar no tratamento da depressão. De facto, a atividade física vem ajudar a normalizar os hábitos de sono, a aliviar a ansiedade e a reduzir o stress emocional. A adicionar a isto, o hábito regular de exercício aumenta a sua auto-estima e estimula a sua memória e concentração.
O técnico ou cuidador deve entender que a depressão no idoso pode ser por si apaziguada.
O técnico ou cuidador deve desenvolver a sua capacidade de compreensão e envolvimento na tentativa positiva de reconhecer o estado de depressão no idoso. A juntar a isto, deve entender que toda a esfera social da pessoa idosa se alterou e que a solidão emocional por ela sentida pode ser por si apaziguada.
Para tal, deve estimular na sua instituição o desenvolvimento de atividades de cariz ocupacional (ateliers de pintura, trabalhos manuais, leitura, teatro, …) que possam aliviar a pessoa idosa destes sentimentos ao mesmo tempo que a envolve novamente num grupo social, a prática regular de exercício físico que acarreta benefícios de ordem física e psicológica e, em casos mais agudos, procurar o apoio de um psicólogo ou psiquiatra que possa fazer o correto acompanhamento, diagnóstico e solução farmacológica ideal para o tratamento da depressão no idoso.