Aposta em cuidados de saúde: boia de salvação dos lares?
Por Joana Marques , 19 de Abril de 2021 Profissionais
As necessidades em matéria de saúde vão aumentando com o envelhecimento, sobretudo devido à existência de comorbilidades e à persistência de doenças crónicas. A progressiva deterioração da saúde dos idosos faz com que eles se tornem cada vez mais dependentes e que sejam institucionalizados em estruturas que atendam às suas necessidades de saúde, por mais específicas e díspares que elas sejam.
A aposta nos cuidados de saúde ultra específicos e excecionais pode impulsionar o setor dos lares, que não ficou imune à contração económica provocada pela pandemia.
Os lares que percepcionam a saúde física e mental dos idosos de forma integrada respondem de forma mais satisfatória às necessidades dos idosos e às preocupações das famílias, não só durante esta crise de saúde pública que estamos a viver, mas também no pós-pandemia.
Saiba de que forma é que a aposta nos cuidados de saúde pode potenciar o seu negócio e gerar confiança entre idosos e famílias.
O básico já não é suficiente
Atualmente, o bem-estar pleno do idoso institucionalizado não depende apenas da prestação de cuidados básicos de higiene, conforto e saúde. Para ser a primeira escolha, um lar de idosos tem que apostar na personalização dos serviços prestados.
Cuidados de saúde básicos não acrescentam valor, e as famílias procuram qualidade e diversificação de serviços.
O alojamento, a alimentação, os cuidados de higiene e conforto, a lavagem e tratamento de roupas, os cuidados médicos e de enfermagem e a animação sociocultural são serviços que muitas famílias dão como garantidos quando estão à procura de um lar para o seu familiar idoso.
A escolha irá recair sobre a instituição que melhor conseguir responder às necessidades específicas do idoso.
A pandemia veio trazer uma nova consciência quanto à importância que tem a preservação ao máximo da saúde dos mais velhos. A aposta em cuidados de saúde específicos e ultra especializados é uma mais-valia, especialmente se a facilitação dos mesmos evitar deslocações a locais onde o idoso está mais exposto a doenças, de que são exemplo os hospitais ou clínicas com grande rotação de utentes.
Foco na saúde, não na doença
Isto significa uma aposta em cuidados de saúde especializados, que têm como objetivo a prevenção.
Envelhecer implica ter que lidar com o aparecimento de doenças cardiovasculares, do foro mental, do aparelho músculo-esquelético e do aparelho respiratório. Nem todos os idosos institucionalizados estão incapacitados ou funcionalmente diminuídos devido à doença, mas à medida que os anos passam a probabilidade de isso acontecer aumenta.
Os lares podem desempenhar um papel crucial no retardamento proativo das consequências das doenças crónicas e ligadas ao envelhecimento.
As famílias desejam sempre o melhor possível para os seus familiares idosos e os lares que promovam a saúde são aqueles que se vão destacar aquando da tomada de decisão pela institucionalização.
Mesmo que no momento da admissão não exista necessidade de cuidados de saúde especializados, a ideia de os poder ter a qualquer momento é muito atrativa.
Embora a escolha possa ser limitada pela capacidade financeira do idoso e família, é importante que a aposta em cuidados de saúde ultra especializados exista, mesmo que seja extra-mensalidade. Além disso, uma política institucional focada na saúde e na garantia por todos os meios do bem-estar físico, mental e emocional do idoso é benéfica a todos os níveis: pessoal, familiar, comunitário e social.
Os cuidados de saúde são a maior preocupação dos idosos
Viver mais anos significa estar mais exposto a riscos, como a progressiva deterioração do estado de saúde, a solidão e a dependência física e mental. No entanto, a prossecução de um envelhecimento ativo implica promover condições para que o idoso viva melhor, e não apenas mais anos só porque a medicina assim o permite.
Permitir ao idoso e à família preparar um envelhecimento com qualidade é talvez a maior vantagem competitiva no setor dos lares.
Os lares devem apostar na promoção de estilos de vida saudáveis, na vigilância da saúde, na prevenção da doença e na gestão dos processos de comorbilidade. Se tudo isto puder ser feito no lar, ou através de parcerias que facilitam o acesso a cuidados de saúde especializados, então isso é uma grande mais-valia.
Centrar os cuidados no idoso permite que este (ou a família) tenha uma voz ativa nas tomadas de decisão relativas à sua saúde e às suas preferências.
Este tipo de abordagem dá segurança e confiança ao idoso e à sua família, mas também a garantia de que os cuidados de saúde não são prestados como resposta a uma crise aguda ou traumática, mas sim como fazendo parte da prestação de serviços.
Como se pode diferenciar um lar?
As necessidades dos idosos institucionalizados estão em constante mutação: variam consoante a idade, o historial clínico e as diversas doenças de que podem padecer, com especial incidência para as doenças cardíacas, neurológicas, psiquiátricas, endócrinas, pulmonares, hematológicas, ortopédicas, vasculares, renais e oncológicas. Mesmo na doença, o estado de saúde vai oscilando ao longo do tempo, quer se trate de uma doença crónica ou traumática.
O lar deve colocar à disposição do idoso todos os cuidados de saúde de que ele possa precisar ou querer, por muito específicos que eles sejam.
Existem serviços de saúde que já fazem parte do leque de oferta de muitos lares, como enfermagem, medicina geral, psiquiatria, psicologia, nutricionista e fisioterapia. No entanto, há vantagem em alargar o acesso a serviços médicos noutras especialidades muito procuradas pelos mais velhos, como neurologia, ortopedia, pneumologia, infecciologia e cardiologia.
Há a possibilidade de estabelecer parcerias
Os lares podem estabelecer parcerias com diversas entidades, que se complementam entre si:
- Clínicas privadas ou empresas que se deslocam aos lares para a prestação de serviços médicos orientados para a geriatria;
- Serviços de transporte para que se agilize o acesso a cuidados médicos especializados que implicam a deslocação dos idosos;
- Empresas da área da saúde que fazem exames complementares, como eletrocardiogramas, MAPA 24 horas, ecocardiogramas, análises clínicas, ecografias, radiografias, testes cutâneos de alergias, entre outros.
A Covid-19 evidenciou a importância de encarar a saúde do idoso como um todo. Qualquer modelo de cuidados de saúde num lar ou residência assistida têm que ser integrativo e biopsicossocial. Os novos desafios potenciados pela pandemia não vão desaparecer, mas alertam este setor para a importância da prestação de serviços de qualidade, diferenciados e personalizados.
O processo de envelhecimento será mais bem sucedido se o idoso residente em lar tiver à sua disposição serviços que garantem o seu bem-estar físico, psicológico e social.
A crise económica vai continuar a afetar os lares. Muitos já sentem a necessidade de se reinventar para responder a esse desafio adicional, através da inovação dos seus serviços num mercado que está em reconfiguração, precisamente devido à pandemia. A aposta em cuidados especializados, feitos à medida das necessidades de cada utente, é um dos caminhos a seguir.
A pandemia veio evidenciar a importância de resguardar os mais idosos de situações de risco, como deslocações a urgências médicas ou a consultas externas.
A aposta em cuidados de saúde ultra específicos pode ser uma bóia de salvação para os lares que mais se têm ressentido com a pandemia, mas também uma forma de aumentar a confiança e a satisfação dos clientes, através do complemento dos cuidados elementares diários, de reabilitação e de enfermagem. Idosos e família sentir-se-ão muito mais seguros e confiantes ao escolher um lar que leva muito a sério a preocupação dominante nas suas vidas: a saúde e a sua manutenção ao longo do processo de envelhecimento.