A doença do movimento que pode afetar qualquer pessoa
Por Joana Marques , 30 de Setembro de 2020 Dependência
A Doença de Parkinson é uma doença do sistema nervoso central, progressiva e incurável, sem causas conhecidas, e que gera grande incapacidade no quotidiano do indivíduo (quer ele ainda viva em casa, com a família, ou esteja institucionalizado).
É uma doença crónica que faz parte do grupo das doenças do movimento, pelo que a fisioterapia e o exercício físico são cruciais.
Existe uma série de desafios no que se refere à motricidade (mas também aos aspetos emocionais e cognitivos da doença) que vão surgindo à medida que a doença progride. No entanto, nem sempre é fácil ajudar o doente sem ajuda profissional e especializada.
Neste artigo, damos algumas dicas indicadas para familiares e auxiliares de lares, que não têm formação em fisioterapia e que precisam de alguns conselhos para ajudar o doente de Parkinson na sua longa e difícil caminhada.
Pode acontecer a qualquer momento
Os doentes de Parkinson partilham uma história comum. Um dia apercebem-se de um tremor persistente e incontrolável, frequentemente nas mãos, que é primeiro associado às pressões do dia-a-dia. Em breve, esta explicação “lógica” dá lugar à dúvida - será mesmo stress? - e o passo seguinte é marcar uma consulta e esperar que o diagnóstico não seja o que já se transformou numa forte, mas ainda impronunciável, suspeita: Parkinson.
O dia em que o doente recebe o diagnóstico é o início de uma nova forma de vida, que exigirá coragem, paciência e otimismo.
Todos os que sofrem de doenças neurodegenerativas têm apenas uma certeza: o dia de amanhã pode não ser pior do que o anterior, mas nunca mais haverá a esperança de ser melhor. A evolução da doença é inexorável e como não existe cura é necessário um grande apoio emocional, por parte de familiares e cuidadores.
Quem sofre de Parkinson deve ser encorajado a aprender sobre a sua doença e a manter-se física e socialmente ativo.
Uma das principais necessidades de um doente com Parkinson é o apoio familiar, a partir do qual se alicerçam todos os outros, especialmente o psicológico e terapêutico.
O apoio da família passa igualmente pelo conhecimento da doença e do abrandamento que ela provoca na vida do doente. Progressivamente, todas as tarefas do quotidiano demoram mais tempo a fazer e têm de ser feitas de forma mais lenta, por isso a palavra-chave nesta nova vida é paciência. Nem o doente deve ser instigado a fazer mais e mais rápido, pois ao não conseguir vai ficar ainda mais frustrado, zangado e ansioso, o que torna todo o processo (ainda mais) penoso.
É uma doença que não tem cura
Em 1817, James Parkinson descreveu pela primeira vez aquela que hoje é considerada a segunda doença neurodegenerativa mais comum (a primeira é a doença de Alzheimer).
Resulta da morte dos neurónios que produzem dopamina, sendo que a dopamina é um neurotransmissor essencial no controlo dos movimentos. Esta é a razão pela qual esta doença é mais conhecida pelos seus sintomas mais visíveis, os motores, que incluem: rigidez, lentidão de movimentos, tremor de repouso e instabilidade postural.
A Doença de Parkinson manifesta-se no sistema nervoso central, de forma crónica e progressiva. Não tem cura.
No entanto, também apresenta sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais, entre os quais declínio da memória e do funcionamento intelectual, depressão, distúrbios do sono e problemas de fala, deglutição e salivação. A doença afeta mais de 20 mil portugueses, sendo que todos os anos são diagnosticados cerca de 2 mil casos
A idade é um gatilho, pois esta doença atinge em especial pessoas entre os 50 e os 60 anos.
Não se sabe o que causa a doença, que pode ser hereditária, mas que mais frequentemente está associada a fatores ambientais, tais como a exposição a componentes tóxicos, como herbicidas e pesticidas.
Ser do sexo masculino é um fator de risco, talvez porque os homens tenham profissões que os expõem a acidentes de trabalho que causem traumatismos cranianos.
Ao contrário do Alzheimer, que afeta mais as mulheres do que os homens, no caso do Parkinson as mulheres têm uma vantagem biológica importante:o estrogénio. Esta substância faz a diferença, pois tem um efeito neuroprotetor na acção da dopamina, o que retarda o aparecimento da doença se ela se manifestar.
A mesma doença não é igual entre homens e mulheres
Existem ligeiras diferenças na forma como a doença se manifesta em ambos os sexos, pelo que as necessidades de homens e mulheres podem ser ligeiramente diferentes. Cuidadores informais e auxiliares em lares de idosos devem ter estas diferenças em consideração quando lidam com um doente de Parkinson, a todos os níveis: emocional, motor e comportamental.
Estas são as diferenças mais evidentes:
- Ao serem diagnosticadas, as mulheres têm mais propensão para a depressão e ansiedade, enquanto os homens tendem a ser mais reativos e agressivos;
- As mulheres apresentam mais tremores, episódios de dor e obstipação; os homens podem desenvolver formas mais severas de lentidão, rigidez de movimentos, sonolência e salivação excessiva;
- Os distúrbios de sono são mais frequentes entre os homens, e são acompanhados de movimentações bruscas e muita agitação durante a noite;
- O declínio cognitivo, que ocorre em fases mais adiantadas da doença, manifesta-se de formas distintas: as mulheres perdem muito rapidamente a capacidade de se orientar e situar no espaço, enquanto os homens perdem com mais frequência a fluência verbal e a capacidade de reconhecer emoções faciais.
A atividade física combate a doença do movimento
Se o primeiro dia após o diagnóstico marca o início de uma nova vida para o doente de Parkinson, então também será necessária a adaptação a um novo estilo de vida, ou à manutenção de bons hábitos já adquiridos antes de a doença se manifestar. O doente vai precisar de apoio para o resto da sua vida.
São os cuidadores próximos que vão ajudar na realização de alongamentos e alguns movimentos repetitivos para combater os problemas motores.
O exercício físico e pequenas alterações na alimentação (para combater a perda de peso e a prisão de ventre associadas à doença) têm que passar a fazer parte da rotina, pois nenhuma das necessidades de uma pessoa que sofre de Parkinson se esgotam a curto-prazo.
O exercício ajuda a combater alguns dos problemas de movimento ao reforçar o equilíbrio e a força muscular. Previne quedas e melhora a mobilidade, além de melhorar o estado mental do doente.
É possível ajudar o doente na execução de pequenos exercícios de marcha, movimento, equilíbrio, alongamento e fortalecimento. Até o simples movimento de sentar e levantar ajudam a trabalhar os músculos das pernas.
Embora o cansaço seja uma das principais queixas dos doentes, os exercícios devem ser realizados com a máxima amplitude e velocidade possíveis, o que requer paciência e esforço de ambas as partes.
Os exercícios devem ser feitos diariamente, em casa ou na instituição. A propósito da pandemia de Covid-19, a Associação Portuguesa de Doentes com Parkinson (APDPk) disponibilizou um vídeo com sugestões de exercícios, e um manual com a exemplificação de exercícios cognitivos, de comunicação e deglutição e de fisioterapia. Estas terapias têm como objetivo conferir o máximo de autonomia e independência possível a um quotidiano já de si dificultado pelos constrangimentos da doença.
A realização de exercícios simples não exclui o papel do fisioterapeuta, o profissional que lhe pode explicar como maximizar a capacidade funcional do doente e minimizar a ocorrência de lesões.
Exercícios para fazer em casa ou no lar:
- Exercícios de marcha: relembrar o doente que deve afastar os pés um do outro para ganhar maior estabilidade e evitar que os pés se cruzem à frente um do outro. Os exercícios de marcha até podem ser feitos ao som de música e o doente deve fazer uma contagem mental dos passos para ganhar ritmo na caminhada
- Exercícios de movimento: são feitos na posição deitada, como por exemplo a rotação do pescoço e do tronco de um lado para o outro, com os joelhos fletidos e os braços a formar um T
- Exercícios de equilíbrio: levantar e sentar numa cadeira sem o auxílio das mãos, que fortalece os músculos do tronco e dos membros ou ajudar o doente a caminhar sobre uma linha reta desenhada ou imaginada no chão
- Exercícios de alongamento: devem ser feitos contra uma parede (alongamento do tronco e braços), com auxílio de uma cadeira (alongamento das pernas e plantas dos pés) ou deitados
- Exercícios de fortalecimento: flexões de braços, que devem ser feitas contra uma parede, e agachamentos, que devem ser executados com o auxílio de uma cadeira
Estes exercícios, a fisioterapia, a terapia ocupacional e da fala, entre outras, têm como único objetivo minimizar os problemas motores decorrentes da progressão da doença. A palavra-chave para o doente é “independência”.
A saúde mental e o ânimo beneficiam da realização, mesmo que limitada, das atividades do dia-a-dia.
Ajude o doente de Parkinson a sentir-se útil e ativo, mesmo que para tal seja necessária ajuda. Tenha também em consideração que existem aparelhos auxiliares, como corrimões adicionais em sítios estratégicos, talheres com cabos largos e até toalhas de mesa antiderrapantes, que facilitam as tarefas de andar e comer, sem que o doente se sinta inválido e incapaz.