Conhece os riscos ocultos da perda de audição dos idosos?

Por Sónia Domingues , 14 de Outubro de 2022 Demência

À medida que os anos passam, é comum os idosos apresentarem dificuldades de audição. É a terceira patologia mais comum da população idosa, a seguir à artrite e hipertensão. Mas, apesar de ser uma disfunção muito frequente, poucos conhecem as consequências da perda de audição no idoso. Neste artigo, vamos saber mais sobre esta patologia clínica e os riscos que estão associados à perda de audição.



​Há perda de audição relacionada com o envelhecimento


Esta perda é física, e vai-se agravando com o tempo. A perda de audição inicialmente afeta os sons mais agudos e com o tempo vai também provocar dificuldades na audição de sons com frequências médias ou graves. Os idosos começam por sentir dificuldade a ouvir conversas em locais ruidosos e depois, ao passo que a surdez se instala, vai progredindo para outras situações.


Estima-se que a perda de audição afete 30 a 90% da população idosa, sendo que, com o avançar da idade, a incidência e grau de intensidade vai aumentando. 



É mais prevalente nos idosos do sexo masculino e, para além do gradual deteriorar do corpo, também pode acentuar-se devido a uma condição hereditária, exposição excessiva ao ruído ou níveis de stress elevados. Perda de audição no idoso provoca mudanças no comportamento, como desinteresse, confusão aparente e alterações comportamentais

Existem também diversos medicamentos cujos efeitos secundários incluem danos nos ouvidos. Nestes incluem-se antibióticos, diuréticos e mesmo anti-inflamatórios não esteróides. 


Pode agravar o estado de saúde dos idosos


Não se trata apenas do idoso chato que pede para repetir mais alto o que lhe estão a dizer. As consequências são bem mais graves do que a surdez em si. O sentido de audição está intimamente ligado à nossa capacidade de equilíbrio, e quando o idoso começa a perder audição, este défice provoca um desagradável zumbido, vertigens e desequilíbrio, que podem originar quedas perigosas, quando se trata de uma pessoa de idade avançada. Mas os riscos associados à perda de audição podem ser significativamente mais catastróficos.

Existem diversos estudos que relacionam a perda de audição com o decréscimo flagrante na qualidade de vida do idoso, assim como na sua segurança.



A perda de audição está ligada ao aumento dos níveis de stress, depressão e está também associada ao aumento de hospitalizações, devido a quedas provocadas por vertigens e desequilíbrios. Para além disso, está associada a uma sobrecarga cognitiva para tentar perceber os sons, levando a que o cérebro do idoso gaste demasiada energia na audição, o que deixa tarefas como pensamento e memória em segundo plano. Além de claramente indicativa de que o idoso está a perder qualidade de vida, a perda de audição é contribui para o desenvolvimento de outras doenças como demência. 


Perda de audição duplica o risco de demência


Um estudo realizado nos Estados Unidos da América, por investigadores da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, constatou que a perda auditiva leve duplicou o risco de demência. A perda moderada triplicou o risco, e as pessoas com uma deficiência auditiva grave tinham cinco vezes mais probabilidades de desenvolver demência. Esta investigação veio demonstrar que a perda de audição está associada a um declínio cognitivo acelerado e a uma deficiência cognitiva mais incidente nos idosos. Este é apenas um dos estudos que apresentou semelhantes resultados, com a perda de audição a estar diretamente associada ao declínio cognitivo dos idosos.


A  perda auditiva está associada a um declínio cognitivo acelerado e a uma deficiência cognitiva incidente em idosos.



Pode ser igualmente observada uma atrofia nas partes do cérebro que processam o som. Estas zonas do cérebro processam também a memória e os sentidos, que ficam afetados. A atrofia cerebral também está associada às fases iniciais da doença de Alzheimer. Esta patologia acaba por levar os idosos a isolarem-se a nível social. As dificuldades que sentem em espaços de convívio, habitualmente mais ruidosos, em que são inundados por imensos sons e a dificuldade em processar e compreender estes ruídos, levam a que procurem afastar-se destas situações. Também em conversas mais calmas, os idosos podem não estar à vontade, porque temem não conseguir compreender a fala da outra pessoa, e sentem vergonha em pedir para repetir constantemente. Desta forma, os idosos com perda auditiva são mais propensos a isolarem-se socialmente.



Reconheça os primeiros sintomas


Os idosos não se apercebem que estão a perder audição, uma vez que esta habitualmente é gradual. A família mais chegada e amigos poderão ter um papel importante na deteção do problema. Se o idoso vive em ambiente de lar, muito provavelmente os profissionais já estarão atentos a estas subtis mudanças no comportamento do idoso. Os sintomas mais comuns são:

  • Zumbido no ouvido;
  • Dificuldade em compreender a fala sem olhar para o interlocutor;
  • Esforço para conversar em ambientes com muito ruído;
  • Desconforto com sons altos;
  •  O idoso compreende melhor a fala masculina do que a feminina (por ser aguda);
  • Dificuldade em falar ao telefone.

Caso se verifiquem alguns sintomas de perda de audição, será aconselhável consultar um especialista na área, que poderá ser o médico da especialidade de otorrinolaringologia ou um profissional de audiologia.


Um olhar atento poderá evitar situações mais graves


Não existe cura para a perda de audição relacionada com o envelhecimento, no entanto, será necessário consultar um especialista que poderá recomendar a realização de diversos exames para confirmar a existência e o grau da doença. Os especialistas poderão recomendar o uso de aparelhos auditivos, que auxiliam o idoso a ouvir melhor. Estes aparelhos captam o som exterior e amplificam-no dentro do ouvido, mas também diferenciam as vozes, o que facilita a compreensão nas conversas.

Tais como os óculos, os aparelhos auditivos poderão requerer um tempo de habituação, ou um período de experimentação, para saber qual mais se adequa ao idoso. Em casos mais graves, em que a perda de audição é extrema, o especialista poderá indicar os implantes cocleares. Apesar de ser um método mais intrusivo, os benefícios que advém da cirurgia poderão justificar os riscos da operação. 

A perda de audição nos idosos, apesar de ser comum, é uma patologia clínica que não deve ser subestimada, porque acarreta inúmeros malefícios, tal como descrevemos. Quando mais cedo for detetada e acompanhada, melhor será para o idoso, que poderá beneficiar de um tratamento adequado para mitigar as consequências da surdez.


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