Como lidar com um idoso com Alzheimer no dia-a-dia

Por Leonor Atalaia , 06 de Dezembro de 2019 Demência


Conviver e cuidar de um idoso com Alzheimer é uma realidade cada vez mais frequente das famílias portuguesas e este facto tem gradualmente colocado o tema na ordem do dia na política e nas instituições.  É agora cada vez mais importante desmistificar a doença e educar os cuidadores formais e informais no sentido de saberem como lidar com pessoas com esta doença (ou outra forma de demência).

Fala-se de humanização dos cuidados, empatia e comunicação, mas o que é isto em termos práticos no dia-a-dia de quem cuida de um familiar idoso com Alzheimer? O que tem impacto no bem-estar familiar e na qualidade de vida da pessoa idosa e do seu familiar cuidador?



Um dos principais inimigos dos bons cuidados é a falta de informação

Para se saber como cuidar, tem de se saber com o que estamos a lidar. Há ainda muitos cuidadores informais que não percebem o que está a acontecer com o seu familiar idoso e não compreendem os sintomas e os sinais da doença, nem de que forma influenciam a perceção da própria pessoa e toda a sua interação social.

É muito importante procurar apoio informativo para saber como funciona esta doença e perceber de que forma está a afetar o nosso familiar. Cada caso é um caso!

É de destacar também o apoio psicológico ao cuidador, através de grupos de ajuda mútua ou terapia individual. Só quando estamos bem e cuidamos de nós, conseguimos cuidar também dos outros. Com o apoio psicológico e informativo a sustentar a pessoa que cuida, a forma de agir perante o idoso com Alzheimer passará a ter uma lógica e um fio condutor muito mais preciso, o que vai facilitar a rotina de ambos.



Como orientar a pessoa com Alzheimer para a ação?

Por vezes, por não compreender o ambiente que a rodeia, o idoso com doença de Alzheimer poderá contrariar a realização de atividades básicas do dia-a-dia (tomar banho, entrar no carro, tomar a refeição). Quando isto acontece, é muito importante, como cuidador, não pessoalizar estas contrariedades.

No fundo, a pessoa idosa com Alzheimer nem sempre reconhece o que está a acontecer à sua volta ou até quem está a cuidar dela e tal como qualquer outra pessoa, enfrentar o “desconhecido” pode ser visto como bastante vulnerável e suscitar medos. É neste sentido que, para lidar com um familiar com Alzheimer, se torna crucial desenvolver a empatia, ou seja, colocarmo-nos no lugar do outro.

Mas que estratégias podemos utilizar para fazer com que a pessoa colabore na realização das atividades do dia-a-dia?


Mantenha uma ligação emocional positiva com a pessoa



​A memória está muito ligada às emoções. Mesmo quando o idoso com Alzheimer não se consegue lembrar de factos da sua vida, do nome dos objetos e esteja desorientada no tempo e no espaço, mantém associações emocionais às pessoas que cuidam dela. É importante preservar a qualidade da relação para que a pessoa continue a fazer uma ligação emocional positiva com seu cuidador.

Isto impacta na perceção de ameaça/confiança que a pessoa idosa tem e pode fazer a diferença entre colaborar na realização das atividades ou não.
Assim, é importante que: 

- se dirija à pessoa com Alzheimer com calma, não se exalte, fale de forma pacífica;

- seja amável e carinhoso; 

- se mantenha calmo e não insista quando a pessoa está com ideias fixas sobre algo, mesmo que não correspondam à realidade; 

- suavize a relação e encare-a com algum humor.



Conheça as motivações da pessoa e direcione o foco das conversas para o que é do interesse dela



​Quando é necessário realizar uma tarefa por razões de saúde, segurança ou outra, o idoso com Alzheimer tende a contrariar mais se a ação não tiver uma associação direta com algo que ela valoriza. Não se deve insistir com a pessoa para realizar determinada tarefa (tomar banho, por exemplo) se a vontade dela é contrária, mas antes contornar a situação de forma suave e levar a pessoa a realizá-la.

Para isso, é necessário criar um contexto em conversa que motive o idoso para a tarefa naquele momento. Por exemplo, se a pessoa idosa não quer tomar banho, uma forma de a motivar a fazê-lo é retirar o foco na ação em si e começar por explicar de forma simples que «Hoje é dia de missa e vamos estar com pessoas que gostamos muito e queremos ir bem arranjados.» ou «Hoje vamos visitar os nossos amigos. Temos de nos ir arranjar para sair». Ao distrair-se com a uma ação mais aprazível e agradável, irá colaborar mais facilmente.

​É por isso muito importante conhecer as suas motivações, os seus gostos e quais os seus valores mais marcantes, porque podem funcionar como gatilho para a ação.



Saiba como negociar com o idoso tarefas simples



​Ao longo da rotina, pode ser necessário negociar com o seu familiar idoso de forma a agilizar as tarefas diárias. A negociação tem de ser feita de forma simples e muito direcionada para o momento, porque esta doença afeta a memória e torna-se mais confuso focar a atenção da pessoa em algo que não é palpável.

A negociação pode acontecer em tarefas simples, como por exemplo, no momento da refeição: imagine que o idoso não quer comer a sopa - uma forma de negociar com ele será, por exemplo, trazer para a mesa algo de que goste (uma fruta, bolachas, sobremesa) e dizer-lhe «Vai comer a sobremesa, depois de comer a sopa.»
A vontade de saborear algo de que gosta muito, vai tornar mais aceitável realizar a atividade que não quer fazer.



Foque o essencial e comunique de forma clara, simples e objetiva



​A comunicação é essencial para a prestação de cuidados e também como forma de estimular a mente do idoso com Alzheimer. Mas para resultar a linguagem utilizada tem de ser simples e a comunicação muito assertiva, de forma a trazer clareza nas situações diárias da pessoa idosa, e não o contrário.

Não complique! Não é benéfico fazer grandes descrições e usar muitos floreados. É importante, sim, dar direções e descrever as situações do dia-a-dia de forma objetiva, bem como dizer os nomes dos objetos e de tudo o que rodeia o idoso ao longo da atividade. Assim, ajuda a pessoa a preservar as pequenas associações, o que acaba por ser uma forma de estimulação cognitiva e de manter a pessoa mais desperta, o que vai facilitar o desenrolar da rotina do dia-a-dia.

Para comunicar com sucesso com um idoso com Alzheimer deve também manter o contacto visual e dar tempo à pessoa para responder sem a interpelar.


Use a música a seu favor



​A utilização de música pode ter inúmeros efeitos positivos para o estado de ânimo e para a estimulação da memória e pode também ser um excelente instrumento para diminuir a agitação e outros sintomas comportamentais da pessoa idosa com Alzheimer, mantendo um ambiente mais calmo em casa, o que é benéfico tanto para o idoso como para o cuidador.​



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